quinta-feira, 30 de abril de 2009
Ernie Barnes RIP
Ernie Barnes faleceu no passado dia 27 e o mundo perdeu um extraordinário artista. É curioso que a biografia no seu site oficial refira que Ernie se encontrava a trabalhar numa nova exposição: significa que pintou até ao fim. Antigo jogador de futebol americano, Ernie tornou-se no mais importante pintor negro da sua geração, um verdadeiro artista americano, como as suas pinturas atestam. Barnes é igualmente responsável pela pintura que foi usada na capa de "I Want You" de Marvin Gaye, extraordinária visão de um clube e da acção provocada pela música. No site oficial deste artista há uma série de ensaios que analisam com propriedade o alcance da sua obra. Leitura útil para quem quiser conhecer um pouco melhor este artista que acaba de desaparecer aos 70 anos.
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Ernie Barnes
terça-feira, 28 de abril de 2009
Meanderthals: Idjuts rumam ao norte
Os Idjut Boys têm novo projecto em mãos e isso é sempre digno de nota. Mais do que saberem estar à frente do tempo, Dan e Conrad souberam inventar o seu próprio tempo, experimentando com o disco e o dub e toda a cultura de edits quando os olhares do mundo estavam concentrados noutros terrenos. Numa recente entrevista ao site Resident Advisor, os Idjuts falam da sua paixão pela música, dos múltiplos projectos em que se envolveram e da sua mais recente aventura que resulta de muitas viagens a Oslo onde trabalharam com Rune Lindbaek, o homem de Klub kebakb (que os próprios Idjuts editaram na Noid, há um par de anos).
O projecto leva o nome Meanderthals, tem selo da mesma Smalltown Supersound que tem trabalhado com a Feedelity de Lindstrom (entre tantas outras boas coisas) e prepara-se para lançar o álbum "Desire Lines". Vindo de quem vem, só pode ser coisa boa: prometem-se ecos dub, sinuosidades disco, atmosferas baleáricas, garra rock e uma pitada de pó das estrelas. E isto analisando apenas os títulos dos sete temas incluídos.
O projecto leva o nome Meanderthals, tem selo da mesma Smalltown Supersound que tem trabalhado com a Feedelity de Lindstrom (entre tantas outras boas coisas) e prepara-se para lançar o álbum "Desire Lines". Vindo de quem vem, só pode ser coisa boa: prometem-se ecos dub, sinuosidades disco, atmosferas baleáricas, garra rock e uma pitada de pó das estrelas. E isto analisando apenas os títulos dos sete temas incluídos.
01 Kunst or Ars
02 Desire Lines
03 Andromeda (Prelude to the Future)
04 1-800-288-SLAM
05 Collective Fetish
06 Lasaron Highway
07 Bugges Room
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segunda-feira, 27 de abril de 2009
Jazz Bridges # 16: Jazz & África
Mais do que umbilical, a relação do jazz com África é espiritual. Em 1966, LeRoi Jones (hoje Amiri Baraka) escreveu «o jazz, tanto o que é mais europeu, popular ou de vanguarda, ou o jazz que é mais negro, continua a fazer referência a um central corpo de experiência cultural». No mesmo ensaio – de título «The changing same (r&b and new black music)» - Jones indica que «a linha que se pode traçar, como tradição musical, é o que nós como povo compreendemos e vamos passando, da melhor forma que sabemos. A forma de chamada e resposta de África nunca nos abandonou enquanto modo de expressão musical». África está, portanto, ligada ao jazz desde o momento zero exactamente porque, como indica LeRoi Jones, há uma experiência cultural que é inseparável da sua invenção e da sua prática.
A ligação entre o grande continente negro e o jazz adquiriu, no entanto, especial significado quando a afirmação da identidade afro-americana se tornou mais veemente, durante os complexos anos do Civil Rights Movement. De repente, os fatos negros que pareciam servir de uniforme aos boppers deram origem a vestes mais conotadas com os libertários tempos que os anos 60 trouxeram. A roupa que passou a vestir os corpos era apenas, claro, um pormenor numa revolução mais interior e mais funda. Jean-Louis Comolli definiu o momento de forma precisa num debate organizado pela Jazz Magazine para discutir o impacto da passagem de Sun Ra por Paris em finais de 1971. Esse debate é citado pelo biógrafo de Sun Ra, John F Szwed, em «Space is the place – The lives and times of Sun Ra»: explica Comolli que a experiência foi interessante por ilustrar «uma invenção de África por negros de Harlem e de outros sítios. Mas trata-se de uma África mítica, uma construção.»
A ligação a uma África ideológica, imaginada – espiritual – de músicos como Sun Ra, Pharoah Sanders, os Art Ensemble of Chicago ou, entre tantos outros, John Coltrane afirmou-se como parte de um processo de redescoberta das raízes. A América começou a mudar em finais dos anos 50, com Rosa Parks e Luther King, o que para os músicos mais avançados significava a reconstrução de uma identidade. Coltrane interessou-se por África muito cedo: em 1958, em colaboração com Wilbur Harden, editou «Dial Africa» (que incluía temas como «Gold Coast» ou «Tanganika strut») e em 1960 gravou a peça «Liberia». Mas foi com «Dahomey dance» (do álbum «Olé Coltrane», de 61) e «Africa» (do álbum «Africa/Brass» que marcou a sua estreia na Impulse, também datado de 1961) que as audições de música africana começaram a permear as criações de Trane. Interessado no aspecto rítmico da música africana, Coltrane e Tyner inspiraram-se num álbum de percussão para escrever «Dahomey dance» (Dahomey é o antigo nome da República do Benin) e «Africa» nasceu como um estudo em polirritmia. Bill Cole, autor do livro John Coltrane», refere mesmo que essa peça é «uma tentativa de dar ao ouvinte uma alargada imagem do que África significava para Eric Dolphy e John Coltrane».
E o que África significava era, muito literalmente, liberdade e identidade, ainda que essa visão idealizada não correspondesse muitas vezes à realidade do conturbado período pós-colonial. Ainda assim, Sun Ra afirmava que o seu interesse pelo Egipto (que inspirou também editoras como a Strata East) se devia, muito simplesmente, ao facto de «lidar com a fundação das coisas». Reedições recentes como a por aqui mencionada compilação «Spiritual Jazz» ou «Soul of Africa», da dupla Hal Singer e Jef Gilson (edição original da Chant du Monde em 1974, relançado o ano passado na Kindred Spirits) são apenas uma gota num oceano de criações que, desde o início dos anos 60, fincaram definitivamente África no mapa espiritual, musical e político do jazz.
O fluxo desta ligação entre o jazz e África não era, no entanto, unilateral. Os músicos africanos também souberam ler no jazz o devido espírito revolucionário que servia de forma perfeita a construção de uma realidade pós-colonial. O caso de Fela Kuti é a esse nível bastante sintomático: Fela estudou música em Inglaterra em finais dos anos 50 onde formou os Koola Lobitos, um grupo que numa particularíssima fusão de jazz, rock e highlife procurava de forma evidente os rumos da modernidade. Em 1969, Fela passou um período em Los Angeles onde se envolveu com o radical programa cultural dos Panteras Negras (que também deram guarida a Sun Ra em Oakland, por iniciativa do próprio Bobby Seale). Regressado à Nigéria, Fela rebaptizou o seu grupo como Africa 70 e fundou a sua Kalakuta Republic, uma comuna e estúdio de gravação onde as sessões se estendiam por longos improvisos influenciados pelo aspecto repetitivo do funk, mas também pelas incendiárias improvisações do jazz mais livre. Na Etiópia, músicos como Mulatu Astatke ou Mahmoud Ahmed também olhavam para as possibilidades abertas pela fusão entre o jazz e as sonoridades mais tradicionais como um caminho válido para a construção de uma identidade moderna e progressista. Mulatu foi mesmo o primeiro africano a ser admitido em Berklee, a prestigiada academia musical, em Boston, em 1958. E que músicos como Mulatu ou Fela tenham ingressado em escolas ocidentais ao mesmo tempo que grandes nomes do jazz começavam a descobrir África é apenas uma entrada numa longa lista de pontos de contacto. Jazz e África podem mesmo ser sinónimos.
A ligação entre o grande continente negro e o jazz adquiriu, no entanto, especial significado quando a afirmação da identidade afro-americana se tornou mais veemente, durante os complexos anos do Civil Rights Movement. De repente, os fatos negros que pareciam servir de uniforme aos boppers deram origem a vestes mais conotadas com os libertários tempos que os anos 60 trouxeram. A roupa que passou a vestir os corpos era apenas, claro, um pormenor numa revolução mais interior e mais funda. Jean-Louis Comolli definiu o momento de forma precisa num debate organizado pela Jazz Magazine para discutir o impacto da passagem de Sun Ra por Paris em finais de 1971. Esse debate é citado pelo biógrafo de Sun Ra, John F Szwed, em «Space is the place – The lives and times of Sun Ra»: explica Comolli que a experiência foi interessante por ilustrar «uma invenção de África por negros de Harlem e de outros sítios. Mas trata-se de uma África mítica, uma construção.»
A ligação a uma África ideológica, imaginada – espiritual – de músicos como Sun Ra, Pharoah Sanders, os Art Ensemble of Chicago ou, entre tantos outros, John Coltrane afirmou-se como parte de um processo de redescoberta das raízes. A América começou a mudar em finais dos anos 50, com Rosa Parks e Luther King, o que para os músicos mais avançados significava a reconstrução de uma identidade. Coltrane interessou-se por África muito cedo: em 1958, em colaboração com Wilbur Harden, editou «Dial Africa» (que incluía temas como «Gold Coast» ou «Tanganika strut») e em 1960 gravou a peça «Liberia». Mas foi com «Dahomey dance» (do álbum «Olé Coltrane», de 61) e «Africa» (do álbum «Africa/Brass» que marcou a sua estreia na Impulse, também datado de 1961) que as audições de música africana começaram a permear as criações de Trane. Interessado no aspecto rítmico da música africana, Coltrane e Tyner inspiraram-se num álbum de percussão para escrever «Dahomey dance» (Dahomey é o antigo nome da República do Benin) e «Africa» nasceu como um estudo em polirritmia. Bill Cole, autor do livro John Coltrane», refere mesmo que essa peça é «uma tentativa de dar ao ouvinte uma alargada imagem do que África significava para Eric Dolphy e John Coltrane».
E o que África significava era, muito literalmente, liberdade e identidade, ainda que essa visão idealizada não correspondesse muitas vezes à realidade do conturbado período pós-colonial. Ainda assim, Sun Ra afirmava que o seu interesse pelo Egipto (que inspirou também editoras como a Strata East) se devia, muito simplesmente, ao facto de «lidar com a fundação das coisas». Reedições recentes como a por aqui mencionada compilação «Spiritual Jazz» ou «Soul of Africa», da dupla Hal Singer e Jef Gilson (edição original da Chant du Monde em 1974, relançado o ano passado na Kindred Spirits) são apenas uma gota num oceano de criações que, desde o início dos anos 60, fincaram definitivamente África no mapa espiritual, musical e político do jazz.
O fluxo desta ligação entre o jazz e África não era, no entanto, unilateral. Os músicos africanos também souberam ler no jazz o devido espírito revolucionário que servia de forma perfeita a construção de uma realidade pós-colonial. O caso de Fela Kuti é a esse nível bastante sintomático: Fela estudou música em Inglaterra em finais dos anos 50 onde formou os Koola Lobitos, um grupo que numa particularíssima fusão de jazz, rock e highlife procurava de forma evidente os rumos da modernidade. Em 1969, Fela passou um período em Los Angeles onde se envolveu com o radical programa cultural dos Panteras Negras (que também deram guarida a Sun Ra em Oakland, por iniciativa do próprio Bobby Seale). Regressado à Nigéria, Fela rebaptizou o seu grupo como Africa 70 e fundou a sua Kalakuta Republic, uma comuna e estúdio de gravação onde as sessões se estendiam por longos improvisos influenciados pelo aspecto repetitivo do funk, mas também pelas incendiárias improvisações do jazz mais livre. Na Etiópia, músicos como Mulatu Astatke ou Mahmoud Ahmed também olhavam para as possibilidades abertas pela fusão entre o jazz e as sonoridades mais tradicionais como um caminho válido para a construção de uma identidade moderna e progressista. Mulatu foi mesmo o primeiro africano a ser admitido em Berklee, a prestigiada academia musical, em Boston, em 1958. E que músicos como Mulatu ou Fela tenham ingressado em escolas ocidentais ao mesmo tempo que grandes nomes do jazz começavam a descobrir África é apenas uma entrada numa longa lista de pontos de contacto. Jazz e África podem mesmo ser sinónimos.
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domingo, 26 de abril de 2009
Pedro Tenreiro - Club de Funk
Pedro Tenreiro é um grande amigo de muitos anos. É igualmente uma das pessoas que mais respeito no complicado mundo da música em Portugal. Para começar porque é uma pessoa certa no lugar certo, caso mais raro do que se possa pensar numa indústria em que nem todas as pessoas têm perfil ou paixão para fazerem o que tem que ser feito. Depois porque é um poço de conhecimento musical em variadíssimas vertentes, sobretudo nos territórios da música mais dançante. E também, para não prolongar mais a lista, porque tendo todas essas qualidades não deixa de ser uma pessoa humilde, acessível e completamente disposta a partilhar todo esse conhecimento e experiência.
Reencontrei-o recentemente no lançamento d'Os Tornados (grupo que convém ter debaixo de olho - recupera o som do universo explorado com a série Portuguese Nuggets com grande estilo e panache!) e cumpri um desejo que data do primeiro momento de criação deste blog: uma entrevista acerca do Clube de Funk, verdadeiro epicentro do tranquilo cataclismo de groove que se começa a fazer sentir no nosso país (Mr. Lizard, Cais do Sodré Funk Connection). Pedro é um verdadeiro militante desta causa e tem o mérito de ser o grande responsável por deixar o nosso país na agenda dos maiores djs de deep funk do mundo.
Quando e como é que surgiu o Clube de Funk? Com que regularidade acontece?
O Club de Funk nasceu em Novembro de 2005. A minha intenção era ter uma noite mensal de Funk e Soul das décadas de 60 e 70, raro e praticamente desconhecido, e ter um grupo de 6 especialistas - Keb Darge, Ian Wright, Snowboy, Jazzman Gerald, James Trouble e Fryer - em rotação, a passar discos comigo, todos os meses. Começamos nos Maus Hábitos, passamos pelo Pitch e pelo Passos Manuel e, desde Setembro, estamos no Plano B, sempre numa base mensal, embora nos últimos tempos só tenhamos convidados trimestralmente.
Que balanço fazes desta noite, até agora?
O melhor possivel. A noite é um sucesso. Quase todas as cidades europeias têm pelo menos uma noite de Funk e Soul bem sucedida. Acreditei que também era possivel construir isso no Porto e, neste momento, sempre que um dos nossos especialistas nos visita fica impressionado com o numero de pessoas que o Club de Funk tem e com a sua predisposição para dançar.
Qual dos teus especialistas te surpreendeu mais até agora e porquê?
Todos são muito bons, embora diferentes. O Keb é um monstro, é sem dúvida alguma o maior dj de Funk do planeta. Pessoalmente adoro o Ian Wright. É aquele que mais música que nunca tinha ouvido na minha vida me deu a conhecer. E que música!Tem provavelmente a melhor colecção de Funk 45s do mundo...
Por a cultura de música negra ser algo de relativamente recente entre nós, não achas que de todas as bandeiras que é possível erguer nessa área a do funk é a mais complicada? Sentes que o Clube de Funk está também a formar um público?
Por acaso não acho. É muito mais dificil passar Soul do que Funk, por exemplo. Talvez por o Funk ser mais crú, mais visceral, as pessoas que cresceram a ouvir Rock têm mais facilidade em aderir-lhe do que aquela que se possa pensar. Talvez por isso é que ultimamente o Keb mistura muitas vezes Rockabilly e Jump Blues nos seus sets. Mas não tenho dúvida alguma que mesmo assim o Club de Funk está a formar um público. Em 4 anos sentem-se diferenças muito grandes na reação que as pessoas têm à música. O que começou por uma agradavel surpresa aos poucos está a transformar-se em militância.
Vamos recuar no tempo: como é que começou a tua relação com este género musical em particular?
A minha fixação pela música negra começou a ganhar forma nos anos 80. Mas nessa altura Funk para mim não era muito mais do que o James Brown e companhia, os Kool and the Gang, os Meters, a Stax e pouco mais. Apaixonei-me primeiro pelo Jazz. A meio dos 90 fui ao Deep Funk em Londres e fiquei maluco. Depois comecei a comprar todas as colectâneas do Keb Darge e de Deep Funk que iam saindo. Vi nascer a Pure Records, depois a Desco, a Daptone e a Soul Fire. Comecei a coleccionar singles e fiquei agarrado!
Como é a tua relação com os discos? És coleccionador? Compras muitos? fazes questão de ser purista e ter os originais?
Sou um viciado! Compro tantos quanto o meu dinheiro me permite. Cada vez viajo menos e passo férias cada vez mais "low cost" porque gasto mais dinheiro do que devia em discos. Mas não sou purista. Há demasiada música que quero, demasiada música que estou constantemente a descobrir para fazer questão em ter os originais. Tinha de ser muito rico! Há alguns discos que se puder ter o original não hesito mas também já vendi discos originais porque entretanto foram re-editados e com o dinheiro que renderam pude, além da sua re-edição, comprar mais 10 ou 20...
Quantos discos de funk tem a colecção e em quanto é que a avalias?
Talvez uns 1500, talvez mais. É dificil compartimentar o Funk. Se estivermos a falar de música negra entre 1962 e 1982, por exemplo, terei, seguramente mais de 5000 discos. E, muito sinceramente, não sou capaz de a avaliar.
Qual o disco de funk mais precioso da tua colecção?
Também não sei. Tenho bastantes discos que valem pelos menos 500 euros, mas não tenho nenhum daqueles que valem 1000, 2000 ou 3000. Nesses casos tenho a re-edições. Todas!
Que tipo de reacções recebes do público nas noites Clube de Funk? Já há seguidores regulares?
Há muitos seguidores regulares, mesmo muitos. E as reacções são muito boas. Na hora de ponta ter mais de 300 pessoas a dançar, a reagir a cada uma das músicas que se vão sucedendo é algo que me faz sentir realizado e orgulhoso.
Já tocaste outros géneros musicais, como house por exemplo. Sentes que a relação com o funk é fruto também da idade? Sentes-te um dj mais "vintage" nos dias que correm?
Acho que a idade tem uma influência grande nos nossos gostos e nas nossas paixões, mas é curioso que parte do público do Club de Funk, embora não seja teenager também não é uma carcaça como eu!
Já internacionalizaste o clube de funk? Ou há planos para tocar fora de Portugal?
Sinceramente não acho que isso faça sentido. Perfiro conseguir ir lá fora para dançar. Ao Soul Sides, ao Club Function e à Oslo Soul Experience na Escandinávia, ao Hip City em Berlim, ao Deep Funk e à Soul Revolution em Londres, ao Motherfunk e ao Soul Spectrum em Edimburgo ou ao Powder Rooms em Barcelona, por exemplo.
Noutros países, as noites de funk acabam sempre por ter aceitação junto de algum público mais sintonizado com um lado indie do hip hop. Cá é assim também?
Sempre tive algum público ligado ao Hip Hop no Club de Funk, embora seja uma minoria e, normalmente, mais velho do que os miudos que consomem Hip Hop hoje em dia; tipo o Serial, o Presto, o Maze e companhia, o pessoal que fez do Infamous Vibes no Comixx, nos anos 90, uma das mais miticas festas de Hip Hop de que há memória entre nós... já estão quase todos nos trinta! São também esses que consomem o Hip Hop mais alternativo que se vai editando, é verdade.
Projectos para o futuro deste clube?
Continuar a dar a conhecer a música negra que vai sendo descoberta e conseguir que aos poucos as pessoas sintam tanta vontade de dançar com Soul como a que já sentem com Funk.
E edições Clube de Funk? Algum dia pensaste nisso?
Já pensei muitas vezes nisso. Começar a editar um sete polegadas ou outro. Mas não tenho muito tempo disponivel e encontar os detentores dos direitos de muita desta música e conseguir as suas licensas é um trabalho a tempo inteiro. Quem sabe um dia... Ás tantas uma banda de funk nacional...
Reencontrei-o recentemente no lançamento d'Os Tornados (grupo que convém ter debaixo de olho - recupera o som do universo explorado com a série Portuguese Nuggets com grande estilo e panache!) e cumpri um desejo que data do primeiro momento de criação deste blog: uma entrevista acerca do Clube de Funk, verdadeiro epicentro do tranquilo cataclismo de groove que se começa a fazer sentir no nosso país (Mr. Lizard, Cais do Sodré Funk Connection). Pedro é um verdadeiro militante desta causa e tem o mérito de ser o grande responsável por deixar o nosso país na agenda dos maiores djs de deep funk do mundo.
Quando e como é que surgiu o Clube de Funk? Com que regularidade acontece?
O Club de Funk nasceu em Novembro de 2005. A minha intenção era ter uma noite mensal de Funk e Soul das décadas de 60 e 70, raro e praticamente desconhecido, e ter um grupo de 6 especialistas - Keb Darge, Ian Wright, Snowboy, Jazzman Gerald, James Trouble e Fryer - em rotação, a passar discos comigo, todos os meses. Começamos nos Maus Hábitos, passamos pelo Pitch e pelo Passos Manuel e, desde Setembro, estamos no Plano B, sempre numa base mensal, embora nos últimos tempos só tenhamos convidados trimestralmente.
Que balanço fazes desta noite, até agora?
O melhor possivel. A noite é um sucesso. Quase todas as cidades europeias têm pelo menos uma noite de Funk e Soul bem sucedida. Acreditei que também era possivel construir isso no Porto e, neste momento, sempre que um dos nossos especialistas nos visita fica impressionado com o numero de pessoas que o Club de Funk tem e com a sua predisposição para dançar.
Qual dos teus especialistas te surpreendeu mais até agora e porquê?
Todos são muito bons, embora diferentes. O Keb é um monstro, é sem dúvida alguma o maior dj de Funk do planeta. Pessoalmente adoro o Ian Wright. É aquele que mais música que nunca tinha ouvido na minha vida me deu a conhecer. E que música!Tem provavelmente a melhor colecção de Funk 45s do mundo...
Por a cultura de música negra ser algo de relativamente recente entre nós, não achas que de todas as bandeiras que é possível erguer nessa área a do funk é a mais complicada? Sentes que o Clube de Funk está também a formar um público?
Por acaso não acho. É muito mais dificil passar Soul do que Funk, por exemplo. Talvez por o Funk ser mais crú, mais visceral, as pessoas que cresceram a ouvir Rock têm mais facilidade em aderir-lhe do que aquela que se possa pensar. Talvez por isso é que ultimamente o Keb mistura muitas vezes Rockabilly e Jump Blues nos seus sets. Mas não tenho dúvida alguma que mesmo assim o Club de Funk está a formar um público. Em 4 anos sentem-se diferenças muito grandes na reação que as pessoas têm à música. O que começou por uma agradavel surpresa aos poucos está a transformar-se em militância.
Vamos recuar no tempo: como é que começou a tua relação com este género musical em particular?
A minha fixação pela música negra começou a ganhar forma nos anos 80. Mas nessa altura Funk para mim não era muito mais do que o James Brown e companhia, os Kool and the Gang, os Meters, a Stax e pouco mais. Apaixonei-me primeiro pelo Jazz. A meio dos 90 fui ao Deep Funk em Londres e fiquei maluco. Depois comecei a comprar todas as colectâneas do Keb Darge e de Deep Funk que iam saindo. Vi nascer a Pure Records, depois a Desco, a Daptone e a Soul Fire. Comecei a coleccionar singles e fiquei agarrado!
Como é a tua relação com os discos? És coleccionador? Compras muitos? fazes questão de ser purista e ter os originais?
Sou um viciado! Compro tantos quanto o meu dinheiro me permite. Cada vez viajo menos e passo férias cada vez mais "low cost" porque gasto mais dinheiro do que devia em discos. Mas não sou purista. Há demasiada música que quero, demasiada música que estou constantemente a descobrir para fazer questão em ter os originais. Tinha de ser muito rico! Há alguns discos que se puder ter o original não hesito mas também já vendi discos originais porque entretanto foram re-editados e com o dinheiro que renderam pude, além da sua re-edição, comprar mais 10 ou 20...
Quantos discos de funk tem a colecção e em quanto é que a avalias?
Talvez uns 1500, talvez mais. É dificil compartimentar o Funk. Se estivermos a falar de música negra entre 1962 e 1982, por exemplo, terei, seguramente mais de 5000 discos. E, muito sinceramente, não sou capaz de a avaliar.
Qual o disco de funk mais precioso da tua colecção?
Também não sei. Tenho bastantes discos que valem pelos menos 500 euros, mas não tenho nenhum daqueles que valem 1000, 2000 ou 3000. Nesses casos tenho a re-edições. Todas!
Que tipo de reacções recebes do público nas noites Clube de Funk? Já há seguidores regulares?
Há muitos seguidores regulares, mesmo muitos. E as reacções são muito boas. Na hora de ponta ter mais de 300 pessoas a dançar, a reagir a cada uma das músicas que se vão sucedendo é algo que me faz sentir realizado e orgulhoso.
Já tocaste outros géneros musicais, como house por exemplo. Sentes que a relação com o funk é fruto também da idade? Sentes-te um dj mais "vintage" nos dias que correm?
Acho que a idade tem uma influência grande nos nossos gostos e nas nossas paixões, mas é curioso que parte do público do Club de Funk, embora não seja teenager também não é uma carcaça como eu!
Já internacionalizaste o clube de funk? Ou há planos para tocar fora de Portugal?
Sinceramente não acho que isso faça sentido. Perfiro conseguir ir lá fora para dançar. Ao Soul Sides, ao Club Function e à Oslo Soul Experience na Escandinávia, ao Hip City em Berlim, ao Deep Funk e à Soul Revolution em Londres, ao Motherfunk e ao Soul Spectrum em Edimburgo ou ao Powder Rooms em Barcelona, por exemplo.
Noutros países, as noites de funk acabam sempre por ter aceitação junto de algum público mais sintonizado com um lado indie do hip hop. Cá é assim também?
Sempre tive algum público ligado ao Hip Hop no Club de Funk, embora seja uma minoria e, normalmente, mais velho do que os miudos que consomem Hip Hop hoje em dia; tipo o Serial, o Presto, o Maze e companhia, o pessoal que fez do Infamous Vibes no Comixx, nos anos 90, uma das mais miticas festas de Hip Hop de que há memória entre nós... já estão quase todos nos trinta! São também esses que consomem o Hip Hop mais alternativo que se vai editando, é verdade.
Projectos para o futuro deste clube?
Continuar a dar a conhecer a música negra que vai sendo descoberta e conseguir que aos poucos as pessoas sintam tanta vontade de dançar com Soul como a que já sentem com Funk.
E edições Clube de Funk? Algum dia pensaste nisso?
Já pensei muitas vezes nisso. Começar a editar um sete polegadas ou outro. Mas não tenho muito tempo disponivel e encontar os detentores dos direitos de muita desta música e conseguir as suas licensas é um trabalho a tempo inteiro. Quem sabe um dia... Ás tantas uma banda de funk nacional...
LISTAS CLUBE DE FUNK
Top 10 de nomes básicos para quem está a pensar entrar neste universo
James Brown e Associados
The Meters
Eddie Bo e Associados
The Gaturs
Rufus Thomas
Clarence Reid / Willie Clarke e Associados
Dyke and the Blazers
Alvin Cash
Spanky Wilson
Bobby Williams
Top 10 de músicas que mais rodam no clube de funk
Chuck Womack & the Sweet Souls - Ham Hocks and beans pt.1
Bobby Byrd - I know you got soul
Spanky Wilson - Kissing my love
Ernie and the Top Notes, Inc. - Dap walk
Rickey Calloway - Tell me
Billy Garner - Brand new girl
Big Ella - The queen
Barbara and Gwen - Right on (to the street called love)
Marva Whitney - What do I have to do to prove my love to you
Jackson Sisters - I believe in miracles
10 Holy grails
The Highlighters Band - The funky 16 corners pt.1
Paul Jackson - Quack Quack Quack
Latin Breed - I turn you on
Reginald Milton and the Soul Jets - Clap your hands
Charles Shefield - It's your voodoo working
Herman Hitson - Ain't no other way
Angela Davis and the Mighty Chevelles - My love (is so strong)
Honey and the Bees - Love addict
Ellipsis - People
Harvey and the Phenomenals - Soul and sunshine
10 nomes de nu-funk
Sharon Jones and the Dap Kings
El Michels Affair
Kings Go Forth
Breakestra / Orgone
Poets of Rhythm / Whitfield Brothers
The New Mastersounds
Speedometer
The Sound Stylistics
Nicole Willis and the Soul Investigators
The Bamboos
Top 5 de editoras de nu-funk
Daptone
Truth and Soul
Timmion
Record Kicks
Unique
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Pedro Tenreiro
sábado, 25 de abril de 2009
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Struttin' in 2009
O regresso da Strut à actividade foi uma das melhores notícias dos últimos tempos. Depois de ter abandonado as edições em 2003, a Strut deixou um verdadeiro vazio -. as compilações editadas durante a sua primeira fase, como "Disco Not Disco" ou "Nigeria 70", ou as antologias dedicadas a grupos como a Lafayette Afro Rock Band ou Oneness of Juju, afirmaram-se como leituras definitivas e alcançaram elas próprias estatuto de objectos coleccionáveis desde que a gestão do catálogo foi suspensa. Felizmente esse período de "silêncio" foi interrompido o ano passado, com a Strut a passar a fazer parte do grupo K7! e a retornar ao terreno das edições. Compilações dedicadas ao Italo, ao Calipso ou aos estúdios Compass Point reafirmaram o rumo. Mas a Strut foi mais longe ao criar a série Inspiration Information que já promoveu três fantásticos encontros: entre Amp Fiddler e Sly & Robbie, Ashley Beadle e Horace Andy e, a mais recente, entre Mulatu Astatke e os Heliocentrics, qualquer uma delas espaço de exercício de uma pequena fantasia. Alguém que tem como emprego responder à pergunta "o que aconteceria se eu pusesse o Mulatu e os Heliocentrics no mesmo estúdio?" tem que ter um dos melhores empregos do mundo. E há mais: a Strut promoveu o regresso de Grandmaster Flash (primeiro álbum de originais em décadas!) e tem vindo a recuperar algumas peças importantes do seu catálogo clássico, como a compilação Nigeria 70 original, em duplo CD, ou a antologia definitiva dos Lafayette Afro Rock Band, grupo do enorme "Darkest Light". Ou seja, mais uma editora que importa ir tendo debaixo de olho. E tudo indica que várias surpresas agradáveis se perfilam para os próximos tempos.
Sampler gratuito com música da Strut.
Sampler gratuito com música da Strut.
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Strut
quinta-feira, 23 de abril de 2009
The Giallos Flame: o som do terror
«Giallo» é uma palavra italiana que significa amarelo, a cor standard para as capas das novelas "pulp" de produção mais ou menos anónima que se impuseram em Itália desde a década de 30 do século passado dando depois origem a um género cinematográfico onde o crime, o suspense e o sexo se misturavam em doses abundantes. Dario Argento ou Mario Bava tornaram-se mestres dessa estética que atraiu também grandes compositores, como Bruno Nicolai ou Ennio Morricone, criadores do que se poderia chamar Giallo Jazz. Com a década de 70, estes filmes começaram a explorar outras possibilidades de banda sonora: Argento trabalhou de perto com os Goblin do grande Claudio Simonetti, uma banda que misturava rock progressivo com arranjos cinemáticos e uma clara inspiração nalguma electrónica mais avançada, criando obras-primas como Profondo Rosso ou Zombi (banda sonora que inspirou o nome e a sonoridade dos Zombi de Spirit Animal). Pode ler-se um pouco mais sobre os Goblin nos arquivos do Hit da Breakz.
Fica assim enquadrada a origem do nome dos Giallos Flame, projecto de Ron Graham que acaba de editar o mui apetecível Euro Slash EP em limitadíssima edição de 250 exemplares. Se se apressarem ainda o encontrarão aqui. Trata-se de um sete polegadas que vem acompanhado de um CD com mais oito temas! Verdadeiro "value for money"!
E vamos ao que interessa: a música de Euro Slash EP é uma lição de tensão, a meio caminho entre o rock espacial dos Zombi, o funk de laboratório dos MRR-ADM e o espírito louge perverso que se encontra nas clássicas bandas sonoras de produção italiana do início dos anos 70. Ou, para descomplicar as coisas, música inspirada pela liberdade e inventividade da melhor library music. Neste EP dos Giallos Flame descobre-se igualmente a mais recente ponta de um novelo que tem vindo a ser desenrolado nos últimos anos e que une a produção dos já citados Zombi e MRR-ADM, mas também a música dos Heliocentrics de Malcolm Catto e dos Natural Yogurt Band: grupos que procuram reinventar uma série de referências desenterradas por anos de diggin' - da library music, de um funk mais sintético, de obscuras bandas sonoras, dos Goblin e dos Tangerine Dream da banda sonora de Sorcerer - cozinhando depois um som que é uma fantasia que procura directamente uma época perdida e que, em boa verdade, talvez até nunca tenha existido. O interessante nesta postura analítica sobre um som que existiu em circuito naturalmente limitado durante uma curta época é a indicação de que o olhar sobre o passado tem revelado nichos cada vez mais codificados, facto que tem permitido que na prática estes projectos sejam uma forma de preencher os espaços em branco em complexos puzzles a que faltavam muitas peças: de Morricone aos Goblin, daí aos estúdios da Tele Music em França ou da Bruton e da KPM em Inglaterra e ainda mais além até ao domínio das experiências electrónicas de gente como Klaus Schulze... Este é o mapa de uma era em que a vontade de experimentar conduzia a pontos de intersecção entre escolas, atitudes e mentalidades muito diferentes. Ron Graham faz assim dos Giallos Flame uma espécie de mapa secreto para um passado que poderá existir apenas na sua cabeça, quando os filmes de terror tinham bandas sonoras de prog rockers interessados em jazz e em electrónica e em funk. É dessas sonoridades que se faz a mix com que Ron Graham procura contextualizar o seu novo EP.
Mix de Ron Graham para assinalar a edição de Euro Slash EP
Fica assim enquadrada a origem do nome dos Giallos Flame, projecto de Ron Graham que acaba de editar o mui apetecível Euro Slash EP em limitadíssima edição de 250 exemplares. Se se apressarem ainda o encontrarão aqui. Trata-se de um sete polegadas que vem acompanhado de um CD com mais oito temas! Verdadeiro "value for money"!
E vamos ao que interessa: a música de Euro Slash EP é uma lição de tensão, a meio caminho entre o rock espacial dos Zombi, o funk de laboratório dos MRR-ADM e o espírito louge perverso que se encontra nas clássicas bandas sonoras de produção italiana do início dos anos 70. Ou, para descomplicar as coisas, música inspirada pela liberdade e inventividade da melhor library music. Neste EP dos Giallos Flame descobre-se igualmente a mais recente ponta de um novelo que tem vindo a ser desenrolado nos últimos anos e que une a produção dos já citados Zombi e MRR-ADM, mas também a música dos Heliocentrics de Malcolm Catto e dos Natural Yogurt Band: grupos que procuram reinventar uma série de referências desenterradas por anos de diggin' - da library music, de um funk mais sintético, de obscuras bandas sonoras, dos Goblin e dos Tangerine Dream da banda sonora de Sorcerer - cozinhando depois um som que é uma fantasia que procura directamente uma época perdida e que, em boa verdade, talvez até nunca tenha existido. O interessante nesta postura analítica sobre um som que existiu em circuito naturalmente limitado durante uma curta época é a indicação de que o olhar sobre o passado tem revelado nichos cada vez mais codificados, facto que tem permitido que na prática estes projectos sejam uma forma de preencher os espaços em branco em complexos puzzles a que faltavam muitas peças: de Morricone aos Goblin, daí aos estúdios da Tele Music em França ou da Bruton e da KPM em Inglaterra e ainda mais além até ao domínio das experiências electrónicas de gente como Klaus Schulze... Este é o mapa de uma era em que a vontade de experimentar conduzia a pontos de intersecção entre escolas, atitudes e mentalidades muito diferentes. Ron Graham faz assim dos Giallos Flame uma espécie de mapa secreto para um passado que poderá existir apenas na sua cabeça, quando os filmes de terror tinham bandas sonoras de prog rockers interessados em jazz e em electrónica e em funk. É dessas sonoridades que se faz a mix com que Ron Graham procura contextualizar o seu novo EP.
Mix de Ron Graham para assinalar a edição de Euro Slash EP
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The Giallos Flame
quarta-feira, 22 de abril de 2009
África Eléctrica # 26
L'Okanga Landju Pene Luambo Makiadi - mais conhecido como Franco - ocupa a totalidade das duas horas de emissão deste volume 26 de África Eléctrica. O pretexto é a distribuição local de Francophonic, primeiro volume de um díptico que a Sterns Africa planeia editar e que cobre a obra deste prodigioso músico africano, uma das principais vozes do continente e músico de excepção.
África Eléctrica # 26 - 1ª hora
África Eléctrica # 26 - 2ª hora
África Eléctrica # 26 - 1ª hora
África Eléctrica # 26 - 2ª hora
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África Eléctrica,
Franco
Shook Magazine # 5
Há novo número da Shook Magazine nas ruas. Como algumas das melhores coisas da vida, a Shook demora, mas quando aparece vem recheada de coisas boas:
From Hyperdub’s Minister of Information Kode9 to deep disco magus David Mancuso; Brazilian folk artist Calma (whose work graces our cover) to Japanese Godzilla movie posters, we've got that nefarious and deleterious brainfood you need.
Read about the migraine skank and tribal skank on the funky house scene or the knee-drops and floor work of UK jazz dance crews, plus word up on Larry Blackmon of Cameo, Ethio jazz maverick Mulatu Astatke, and Detroit’s i-don’t-give-a-fuck producer Omar S. We feature Sierra Leonean fashion house Aschobi Designs, novelist Gemma Weekes, we tell the story of how hip-hop sampled Marvel comics, and how Adidas exploded on the football terraces of Anfield.
Check out our interviews with Martyn, Harmonic 313, Culoe de Song (from Durban, S.A.), Silkie (from Hammersmith, W6) and the Soca-tinged sounds of Montreal's Ghislain Poirier. Reggae authority David Katz speaks to Ashley Beedle and Horace Andy; in the Lower East Side we catch up with DJs Rich Medina and Bobbito Garcia for an exclusive photo story; and Âme paint the history of electronic music in felt tip pens (no joke), plus lots of your regulars and even more surprises. This issue really is too hot to handle, so buy some oven gloves while you’re at it.
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Shook
terça-feira, 21 de abril de 2009
Dancehall - The Rise of Jamaican dancehall Culture
Sob determinados aspectos, o mundo – ou pelo menos o mundo anglo-saxónico – só agora está a acordar para a vibrante música que sempre existiu nas margens dos grandes centros exportadores de pop. Os casos do kuduro, do reggaeton ou do baile-funk são significativos, representantes de uma nova era em que o eixo que define os rumos da pop – estabelecido entre os Estados Unidos e Inglaterra – se mostra por fim permeável ao que outros países têm para dizer.
O caso jamaicano, no entanto, foi sempre particular: depois de Bob Marley ter emergido como uma estrela na década de 70, embora com o seu som “amaciado” para os ouvidos ocidentais em estúdios de Londres, a cultura de sound systems da Jamaica impôs-se como uma espécie de farol criativo, informando desenvolvimentos tão importantes como a cultura de djs que hoje gera super-estrelas, a arte da remistura, o estúdio como instrumento e a ideia de que um gira-discos e um microfone podem ser ferramentas suficientes para conquistar o mundo – não esquecer que Kool Herc, pioneiro do hip hop, era jamaicano. Mas se a “ética” musical jamaicana influenciou destinos musicais por todo o mundo, isso não significa que o mundo conheça ou entenda de forma profunda o que é a Jamaica. Questões culturais, económicas, políticas e sociais muito complexas abriram parte da orla costeira ao mercado turístico, mas mantiveram o resto da ilha refém de uma intensa actividade criminal e por isso fechada aos olhos ocidentais. O canadiano Ryan Moore, que opera a partir da Holanda como Twilight Circus, ainda recentemente confessava à revista britânica Woofah (leitura fundamental para todos os que tiverem um interesse sério na música mais comprometida com sub-graves) os dissabores da sua aventura jamaicana, que envolveram, claro está, muitas armas. A Jamaica encontra-se por isso na delicada posição de um país que gera uma cultura que muitos amam, mas que possui um território que poucos conhecem.
Por isso tudo, «Dancehall – The Rise of Jamaican Dancehall Culture», de Beth Lesser, é um impressionante documento que transporta para o presente de forma vívida uma época menos conhecida da história musical da Jamaica, quando ainda se lidava com os efeitos da morte de Marley e a cultura ragga ainda não tinha gerado mega-êxitos mundiais no início dos anos 90.
Com passaporte canadiano – sendo que o Canadá é outro importante destino da diáspora jamaicana, veja-se a série de edições «From Jamaica to Toronto» da Light In The Attic – Beth Lesser viajou com frequência para a ilha das Caraíbas com o seu marido, para fotografar os protagonistas da cena musical local para o seu fanzine Reggae Quarterly. A sua dedicação e amor genuíno pela cultura serviram-lhe de salvo-conduto e ofereceram-lhe a rara oportunidade de captar estrelas de diversas dimensões no seu dia-a-dia, longe dos filtros impostos pelas editoras: Gregory Isaacs em frente da sua loja de discos, African Museum, Papa Screw a ouvir discos, Cocoa Tea encostado a um velho carro num dos notórios becos de Kingston, um jovem Tenor Saw (a voz do enorme «Ring The Alarm») no Youth Promotion Center. A lista continua, é imensa e reveladora. As fotos de Beth Lesser têm a extrema qualidade de atentar tanto às personagens que colocam em primeiro plano, como ao cenário que as enquadra, quase sempre feito de velhas tábuas, redes de capoeira e edifícios decrépitos. É importante perceber que este foi o ambiente que gerou uma cultura que hoje marca milhões por todo o mundo. As cores vívidas das fotos, das roupas e das pinturas que adornam muitas paredes são um eco do profundo positivismo jamaicano, uma marca da sua cultura singular.
Embora seja uma festa para os olhos, «Dancehall» não é um livro só para ver: os textos de Lesser enquadram a acção captada em película, vão fundo na análise histórica e social de uma época muito particular para a cultura jamaicana. Estas fotos situam-se na mesma década de 80 que haveria de consagrar os desenvolvimentos criados na ilha – os «dubs» nos lados B dos maxis de house, as «extended versions», o hip hop, a paixão pelos graves e a ascenção dos produtores como magos de estúdio. Uma década que na Jamaica impôs códigos visuais diferentes, longe dos 80 americanos de «Regresso ao Futuro» dos jogos de arcada e da explosão do walkman.
E, como não podia deixar de ser, ou não se tratasse de mais uma conseguida aventura da Soul Jazz pelos domínios dos livros (depois de «New York Noise»), existe uma excelente compilação que pode – e deve – servir de banda sonora à leitura. O duplo CD inclui Yellowman, Tenor Saw, Chaka Demus & Pliers, Ini Kamoze, Cutty Ranks, Clint Eastwood (o outro…), Sister Nancy ou Eek a Mouse numa excelente selecção que nos mostra os melhores toasters de uma década em que a música jamaicana se transformou, mercê da adopção das possibilidades electrónicas de produção que então se vulgarizaram. Como sempre aconteceu quando o palco da música era a Jamaica, essas transformações tiveram aí efeitos únicos e irrepetíveis. Como resultado, o dancehall criado nesse tempo ainda hoje influencia destinos na música – do hip hop ao mais vanguardista dubstep. Estes são os retratos dessa grande invenção cultural.
(Texto publicado originalmente na revista Parq)
PS: Há meses que ando a dilatar a minha colecção de dancehall com pérolas editadas na VP com produções de iluminados como King Jammy ou Lenky. A revista The Wire publicou aliás um incrível Primer sobre este género, destacando muitos dos produtores cujos álbuns na VP andam nas Cash Converters por um euro. Sempre que passo pela de Benfica, não deixo de trazer mais meia dúzia de poderosos ritmos digitais jamaicanos.
O caso jamaicano, no entanto, foi sempre particular: depois de Bob Marley ter emergido como uma estrela na década de 70, embora com o seu som “amaciado” para os ouvidos ocidentais em estúdios de Londres, a cultura de sound systems da Jamaica impôs-se como uma espécie de farol criativo, informando desenvolvimentos tão importantes como a cultura de djs que hoje gera super-estrelas, a arte da remistura, o estúdio como instrumento e a ideia de que um gira-discos e um microfone podem ser ferramentas suficientes para conquistar o mundo – não esquecer que Kool Herc, pioneiro do hip hop, era jamaicano. Mas se a “ética” musical jamaicana influenciou destinos musicais por todo o mundo, isso não significa que o mundo conheça ou entenda de forma profunda o que é a Jamaica. Questões culturais, económicas, políticas e sociais muito complexas abriram parte da orla costeira ao mercado turístico, mas mantiveram o resto da ilha refém de uma intensa actividade criminal e por isso fechada aos olhos ocidentais. O canadiano Ryan Moore, que opera a partir da Holanda como Twilight Circus, ainda recentemente confessava à revista britânica Woofah (leitura fundamental para todos os que tiverem um interesse sério na música mais comprometida com sub-graves) os dissabores da sua aventura jamaicana, que envolveram, claro está, muitas armas. A Jamaica encontra-se por isso na delicada posição de um país que gera uma cultura que muitos amam, mas que possui um território que poucos conhecem.
Por isso tudo, «Dancehall – The Rise of Jamaican Dancehall Culture», de Beth Lesser, é um impressionante documento que transporta para o presente de forma vívida uma época menos conhecida da história musical da Jamaica, quando ainda se lidava com os efeitos da morte de Marley e a cultura ragga ainda não tinha gerado mega-êxitos mundiais no início dos anos 90.
Com passaporte canadiano – sendo que o Canadá é outro importante destino da diáspora jamaicana, veja-se a série de edições «From Jamaica to Toronto» da Light In The Attic – Beth Lesser viajou com frequência para a ilha das Caraíbas com o seu marido, para fotografar os protagonistas da cena musical local para o seu fanzine Reggae Quarterly. A sua dedicação e amor genuíno pela cultura serviram-lhe de salvo-conduto e ofereceram-lhe a rara oportunidade de captar estrelas de diversas dimensões no seu dia-a-dia, longe dos filtros impostos pelas editoras: Gregory Isaacs em frente da sua loja de discos, African Museum, Papa Screw a ouvir discos, Cocoa Tea encostado a um velho carro num dos notórios becos de Kingston, um jovem Tenor Saw (a voz do enorme «Ring The Alarm») no Youth Promotion Center. A lista continua, é imensa e reveladora. As fotos de Beth Lesser têm a extrema qualidade de atentar tanto às personagens que colocam em primeiro plano, como ao cenário que as enquadra, quase sempre feito de velhas tábuas, redes de capoeira e edifícios decrépitos. É importante perceber que este foi o ambiente que gerou uma cultura que hoje marca milhões por todo o mundo. As cores vívidas das fotos, das roupas e das pinturas que adornam muitas paredes são um eco do profundo positivismo jamaicano, uma marca da sua cultura singular.
Embora seja uma festa para os olhos, «Dancehall» não é um livro só para ver: os textos de Lesser enquadram a acção captada em película, vão fundo na análise histórica e social de uma época muito particular para a cultura jamaicana. Estas fotos situam-se na mesma década de 80 que haveria de consagrar os desenvolvimentos criados na ilha – os «dubs» nos lados B dos maxis de house, as «extended versions», o hip hop, a paixão pelos graves e a ascenção dos produtores como magos de estúdio. Uma década que na Jamaica impôs códigos visuais diferentes, longe dos 80 americanos de «Regresso ao Futuro» dos jogos de arcada e da explosão do walkman.
E, como não podia deixar de ser, ou não se tratasse de mais uma conseguida aventura da Soul Jazz pelos domínios dos livros (depois de «New York Noise»), existe uma excelente compilação que pode – e deve – servir de banda sonora à leitura. O duplo CD inclui Yellowman, Tenor Saw, Chaka Demus & Pliers, Ini Kamoze, Cutty Ranks, Clint Eastwood (o outro…), Sister Nancy ou Eek a Mouse numa excelente selecção que nos mostra os melhores toasters de uma década em que a música jamaicana se transformou, mercê da adopção das possibilidades electrónicas de produção que então se vulgarizaram. Como sempre aconteceu quando o palco da música era a Jamaica, essas transformações tiveram aí efeitos únicos e irrepetíveis. Como resultado, o dancehall criado nesse tempo ainda hoje influencia destinos na música – do hip hop ao mais vanguardista dubstep. Estes são os retratos dessa grande invenção cultural.
(Texto publicado originalmente na revista Parq)
PS: Há meses que ando a dilatar a minha colecção de dancehall com pérolas editadas na VP com produções de iluminados como King Jammy ou Lenky. A revista The Wire publicou aliás um incrível Primer sobre este género, destacando muitos dos produtores cujos álbuns na VP andam nas Cash Converters por um euro. Sempre que passo pela de Benfica, não deixo de trazer mais meia dúzia de poderosos ritmos digitais jamaicanos.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
No blog da flur...
Lá estou eu, a responder ao questionário # 48 (ainda o Record Store Day - e o dia da loja de discos deveria ser como o natal, sempre que um homem (ou mulher...) quisesse...) e a falar de discos, como é costume. Passem por lá.
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Flur
domingo, 19 de abril de 2009
Steinski: o alcance da memória
A ideia de que a nova escola hip hop só se define enquanto negativo da escola original – a velha! – é ridiculamente absurda. Na sua passagem pelo clube Pitch do Porto no âmbito de uma Info Session da Red Bull dedicada ao Cut n’ Paste, Steve Stein, mais conhecido por Steinski, assinou um intenso set a partir de um artilhado laptop decorado com autocolantes da Creative Commons de onde debitava rajadas sucessivas de MP3 que uniam os muito distantes universos de Herman Kelly e DJ Marlboro. Só mesmo os guardiões do centro comercial da nova escola hip hop é que não percebem: o absurdismo delicioso de Lil’ Wayne não é caso singular num devir histórico que conta com Kool Keith ou Quasimoto; e até mesmo as batidas paranoicamente viciantes de “Lollipop” ou “A Milli” têm uma insuperável dívida de gratidão perante o trabalho pioneiro de gente como Lenky ou Bobby Digital (e não me refiro ao desastrado alter-ego de Rza). A recusa da memória em detrimento do que é absolutamente novo tem apenas uma consequência – a eliminação do lado cultural de um género. Essa insistência no romper de laços – que é unilateral e surge do lado do presente em relação ao passado e nunca o contrário – parece ter como objectivo único uma espécie de reset da memória. Mas acreditar que tudo começa agora é um erro tão tremendo como acreditar que tudo terminou em 1992 quando o bom doutor editou “The chronic”.
Em 1983, Steve Stein convenceu o seu amigo Douglas Di Franco (Double Dee) a participar num projecto de elaboração de uma remistura para o tema “Play that beat mr dj” de G.L.O.B.E. & Whiz Kid. No júri que escolheria o vencedor do desafio lançado pela Tommy Boy estavam Afrika Bambaataa e Jellybean Benitez, dois importantes protagonistas da emergente cultura hip hop. “The Payoff Mix” conseguiu o primeiro lugar sem dificulades, obtendo aplausos unânimes por parte dos membros do júri. Nos cinco minutos e vinte e quatro segundos desse momento fundador da série de três lições que se revelariam visionárias estão ideias decisivas para se compreenderem as três últimas décadas de criação. Mais importante do que o facto de Stein e Di Franco não terem sido dotados das mesmas doses de melanina que a maior parte dos habitantes de South Bronx é a sua capacidade extrema de transformar cada uma das suas criações num depósito de marcas aurais de uma extensíssima cultura pop.
Em 1983, Double Dee & Steinski uniram os universos da rádio e das block parties, da televisão e do cinema, do hip hop e do disco, do funk e do electro, assumindo-se como herdeiros de uma tradição que se estendia para lá do Bronx até aos pioneiros da manipulação de fita magnética – e só aí encontrava-se uma linha que unia a academia de Pierre Schaeffer, o laboratório de Delia Derbyshire e as pretensões pop da dupla Dickie Goodman e Bill Buchanan que assinou o “novelty record” “Flying Saucer”: “We interrupt this record to bring you a special bulletin. The reports of a flying saucer hovering above the city have been confirmed.”
Mesmo quando o hip hop gritava “agora!”, Steinski e Double Dee perceberam que as possibilidades abertas pela manipulação de fita e um generoso espírito arquivista serviam um propósito maior. As Lessons de Double Dee & Steinski – a inaugural “Payoff Mix” que lhes valeu o prémio da Tommy Boy e as subsequentes “James Brown Mix” e “The history of hip hop” – eram na verdade um comentário a uma cultura nascente que entendiam ser não apenas fruto de um presente em ebulição, mas de um longo processo histórico que abraçava a ideia de colagem – de pedaços de fita, de pedaços de história, de pedaços de música…
Apesar de terem as suas criações confinadas a rodelas de vinil de formato promocional e circulação limitada, Double Dee e Steinski viram o culto crescer ao longo dos anos. Cut Chemist e Dj Shadow, sem se conhecerem ainda, criaram ambos uma “Lesson 4” que pretendia continuar a história e adoptar um mesmo olhar generosamente inclusivo sobre a história do hip hop que nas mãos dessa nova geração de djs passou a explorar ligações ao rock psicadélico, ao jazz mais livre ou aos grooves do Brasil. Para estes manipuladores, a memória nunca teve balizas – pensem em Steinski a tocar baile funk no Pitch ou Shadow a divulgar o hiphy no Lux – e sempre procurou o futuro. Então, afinal de contas, e como o próprio Steinski pergunta no título da há muito aguardada antologia das suas obras – “What does it all mean?” Simples: a memória é livre, não obedece a códigos de direitos de autor e navega por todas as águas. Essa liberdade de movimentos é, em si mesma, um comentário tremendo a uma sociedade que se agarra cegamente a um código de autor elaborado antes da Internet e das novas tecnologias terem redimensionado o mundo. Não é acidente este crucial disco sair na mesma illegal art que lançou “Feed the animals” de Girl Talk… “Sampling is not a crime”, diz o bumper sticker de Steinski.
(Texto publicado na última edição da revista Op., # 27)
Em 1983, Steve Stein convenceu o seu amigo Douglas Di Franco (Double Dee) a participar num projecto de elaboração de uma remistura para o tema “Play that beat mr dj” de G.L.O.B.E. & Whiz Kid. No júri que escolheria o vencedor do desafio lançado pela Tommy Boy estavam Afrika Bambaataa e Jellybean Benitez, dois importantes protagonistas da emergente cultura hip hop. “The Payoff Mix” conseguiu o primeiro lugar sem dificulades, obtendo aplausos unânimes por parte dos membros do júri. Nos cinco minutos e vinte e quatro segundos desse momento fundador da série de três lições que se revelariam visionárias estão ideias decisivas para se compreenderem as três últimas décadas de criação. Mais importante do que o facto de Stein e Di Franco não terem sido dotados das mesmas doses de melanina que a maior parte dos habitantes de South Bronx é a sua capacidade extrema de transformar cada uma das suas criações num depósito de marcas aurais de uma extensíssima cultura pop.
Em 1983, Double Dee & Steinski uniram os universos da rádio e das block parties, da televisão e do cinema, do hip hop e do disco, do funk e do electro, assumindo-se como herdeiros de uma tradição que se estendia para lá do Bronx até aos pioneiros da manipulação de fita magnética – e só aí encontrava-se uma linha que unia a academia de Pierre Schaeffer, o laboratório de Delia Derbyshire e as pretensões pop da dupla Dickie Goodman e Bill Buchanan que assinou o “novelty record” “Flying Saucer”: “We interrupt this record to bring you a special bulletin. The reports of a flying saucer hovering above the city have been confirmed.”
Mesmo quando o hip hop gritava “agora!”, Steinski e Double Dee perceberam que as possibilidades abertas pela manipulação de fita e um generoso espírito arquivista serviam um propósito maior. As Lessons de Double Dee & Steinski – a inaugural “Payoff Mix” que lhes valeu o prémio da Tommy Boy e as subsequentes “James Brown Mix” e “The history of hip hop” – eram na verdade um comentário a uma cultura nascente que entendiam ser não apenas fruto de um presente em ebulição, mas de um longo processo histórico que abraçava a ideia de colagem – de pedaços de fita, de pedaços de história, de pedaços de música…
Apesar de terem as suas criações confinadas a rodelas de vinil de formato promocional e circulação limitada, Double Dee e Steinski viram o culto crescer ao longo dos anos. Cut Chemist e Dj Shadow, sem se conhecerem ainda, criaram ambos uma “Lesson 4” que pretendia continuar a história e adoptar um mesmo olhar generosamente inclusivo sobre a história do hip hop que nas mãos dessa nova geração de djs passou a explorar ligações ao rock psicadélico, ao jazz mais livre ou aos grooves do Brasil. Para estes manipuladores, a memória nunca teve balizas – pensem em Steinski a tocar baile funk no Pitch ou Shadow a divulgar o hiphy no Lux – e sempre procurou o futuro. Então, afinal de contas, e como o próprio Steinski pergunta no título da há muito aguardada antologia das suas obras – “What does it all mean?” Simples: a memória é livre, não obedece a códigos de direitos de autor e navega por todas as águas. Essa liberdade de movimentos é, em si mesma, um comentário tremendo a uma sociedade que se agarra cegamente a um código de autor elaborado antes da Internet e das novas tecnologias terem redimensionado o mundo. Não é acidente este crucial disco sair na mesma illegal art que lançou “Feed the animals” de Girl Talk… “Sampling is not a crime”, diz o bumper sticker de Steinski.
(Texto publicado na última edição da revista Op., # 27)
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Double Dee and Steinski,
Steinski
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Workshop de diggin: Crew Hassan, 18 de Abril III
Como forma de preparação para a sessão de amanhã, na Crew Hassan (Rua do Coliseu dos Recreios), a partir das 16 horas, deixo aqui uma série de Tops que poderão funcionar como guias para quem gosta de expedições de procura de vinil. Ou não.
5 de Feiras de Velharias
01 Algés
02 Setúbal
03 Oeiras
04 Azeitão
05 Coimbra
5 artistas a evitar
01 Leo Sayer
02 Barbra Streisand
03 Nana Mouskouri
04 Julio Iglesias
05 Waldo de los Rios
5 maestros easy listening que valem a pena
01 James Last
02 Bert Kaempfert
03 Paul Mauriat
04 Ray McVay
05 Hugo Montenegro
5 géneros sem funk
01 Exotica
02 Country
03 Folk
04 Avant electronica
05 New age
5 géneros com funk
01 Disco
02 Jazz
03 Brasil (é mais um país do que um género, mas...)
04 Prog
05 Moog (mais um instrumento do que um género, mas também...)
Funk com funk
01 James Brown
02 Marva Whitney
03 Lyn Collins
04 Parliament/Funkadelic
05 Black Heat
Rock com Funk
01 Rare Earth
02 Jimi Hendrix
03 Average White Band
04 Steve Miller band
05 James Gang
Funk com Rock
01 Sly Stone
02 Funkadelic
03 Rick James
04 Betty davis
05 War
Kraut com Funk
01 Can
02 Release Music Orchestra
03 Kraftwerk
04 Amon Duul II
05 Embryo
Kraut com Kraut
01 Neu
02 Faust
03 Xhol Caravan
04 Guru Guru
05 Popol Vuh
5 labels
01 Atlantic
02 Stax
03 Motown
04 Buddah
05 Reprise
Outras cinco labels
01 Brain
02 Sky
03 Bellaphon
04 Vertigo
05 Chrysalis
5 labels com jazz
01 Blue Note
02 Impulse
03 Verve
04 CTI
05 Amiga
5 produtos internos refinados
01 Duo Ouro Negro
02 Ananga Ranga
03 Petrus Castrus
04 Paulo de Carvalho
05 Fausto
5 formatos
01 LP
02 7"
03 12"
04 10"
05 K7
5 guilty pleasures
01 Versões do musical "Hair"
02 Série Beachparty de James Last
03 Boney M
04 Roberto Carlos
05 Discos com versões do tema «Pop Corn»
5 Big discos de Geoff Love
01 Big Disco Movie Hits
02 Big Terror Movie Themes
03 Big Bond Movie Themes
04 Big Suspense Movie
05 Big Western Movie Themes
5 preços que se devem pagar em feiras
01 50 cêntimos
02 1 euro
03 2 euros
04 ...
05 ...
5 frases que convém ter à mão
01 "Por acaso não conheço"
02 "Pela capa parece giro"
03 "O meu pai é que gosta disto e como está doente..."
04 "Mas isto toca? 'Tou a comprar para emuldurar..."
05 "Juro que só tenho mesmo 2 euros..."
5 atitudes a evitar quando se encontra um Holy Grail por 1 euro
01 Saltar de alegria
02 Arregalar os olhos
03 Gritar: "Não acredito! procurava isto há tanto tempo!"
04 Pensar: "Vou levantar dinheiro e passo cá daqui a bocado para o levar."
05 Dizer: "João, nem vais acreditar no disco que descobri aqui na caixa deste senhor!"
5 tipos de vendedores detestáveis
01 Os que dizem "isso tem vários preços" e depois resolvem sempre que os discos mais caros são os que acabámos de escolher
02 Os que deixam bons discos a empenarem-se ao sol
03 Os que tentam ensinar a missa ao padre
04 Os que não querem, na verdade, vender disco nenhum
05 Os mal educados
5 tipos de vendedores que dá prazer enganar
01 Os que metem tudo o que é Amália, Queen e Beatles a 20 euros e o resto a 1 euro
02 Os que pensam que nos vão enganar a nós
03 Os que têm livros com guias de preços da Record Collector ao lado da banca
04 Os que têm cachecóis do sporting
05 Os que se gabam de ter enganado outros
5 de Feiras de Velharias
01 Algés
02 Setúbal
03 Oeiras
04 Azeitão
05 Coimbra
5 artistas a evitar
01 Leo Sayer
02 Barbra Streisand
03 Nana Mouskouri
04 Julio Iglesias
05 Waldo de los Rios
5 maestros easy listening que valem a pena
01 James Last
02 Bert Kaempfert
03 Paul Mauriat
04 Ray McVay
05 Hugo Montenegro
5 géneros sem funk
01 Exotica
02 Country
03 Folk
04 Avant electronica
05 New age
5 géneros com funk
01 Disco
02 Jazz
03 Brasil (é mais um país do que um género, mas...)
04 Prog
05 Moog (mais um instrumento do que um género, mas também...)
Funk com funk
01 James Brown
02 Marva Whitney
03 Lyn Collins
04 Parliament/Funkadelic
05 Black Heat
Rock com Funk
01 Rare Earth
02 Jimi Hendrix
03 Average White Band
04 Steve Miller band
05 James Gang
Funk com Rock
01 Sly Stone
02 Funkadelic
03 Rick James
04 Betty davis
05 War
Kraut com Funk
01 Can
02 Release Music Orchestra
03 Kraftwerk
04 Amon Duul II
05 Embryo
Kraut com Kraut
01 Neu
02 Faust
03 Xhol Caravan
04 Guru Guru
05 Popol Vuh
5 labels
01 Atlantic
02 Stax
03 Motown
04 Buddah
05 Reprise
Outras cinco labels
01 Brain
02 Sky
03 Bellaphon
04 Vertigo
05 Chrysalis
5 labels com jazz
01 Blue Note
02 Impulse
03 Verve
04 CTI
05 Amiga
5 produtos internos refinados
01 Duo Ouro Negro
02 Ananga Ranga
03 Petrus Castrus
04 Paulo de Carvalho
05 Fausto
5 formatos
01 LP
02 7"
03 12"
04 10"
05 K7
5 guilty pleasures
01 Versões do musical "Hair"
02 Série Beachparty de James Last
03 Boney M
04 Roberto Carlos
05 Discos com versões do tema «Pop Corn»
5 Big discos de Geoff Love
01 Big Disco Movie Hits
02 Big Terror Movie Themes
03 Big Bond Movie Themes
04 Big Suspense Movie
05 Big Western Movie Themes
5 preços que se devem pagar em feiras
01 50 cêntimos
02 1 euro
03 2 euros
04 ...
05 ...
5 frases que convém ter à mão
01 "Por acaso não conheço"
02 "Pela capa parece giro"
03 "O meu pai é que gosta disto e como está doente..."
04 "Mas isto toca? 'Tou a comprar para emuldurar..."
05 "Juro que só tenho mesmo 2 euros..."
5 atitudes a evitar quando se encontra um Holy Grail por 1 euro
01 Saltar de alegria
02 Arregalar os olhos
03 Gritar: "Não acredito! procurava isto há tanto tempo!"
04 Pensar: "Vou levantar dinheiro e passo cá daqui a bocado para o levar."
05 Dizer: "João, nem vais acreditar no disco que descobri aqui na caixa deste senhor!"
5 tipos de vendedores detestáveis
01 Os que dizem "isso tem vários preços" e depois resolvem sempre que os discos mais caros são os que acabámos de escolher
02 Os que deixam bons discos a empenarem-se ao sol
03 Os que tentam ensinar a missa ao padre
04 Os que não querem, na verdade, vender disco nenhum
05 Os mal educados
5 tipos de vendedores que dá prazer enganar
01 Os que metem tudo o que é Amália, Queen e Beatles a 20 euros e o resto a 1 euro
02 Os que pensam que nos vão enganar a nós
03 Os que têm livros com guias de preços da Record Collector ao lado da banca
04 Os que têm cachecóis do sporting
05 Os que se gabam de ter enganado outros
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Workshop de diggin'
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Workshop de diggin: Crew Hassan, 18 de Abril II
Chega uma altura na vida de todos os diggers em que a terrível pergunta "será que eu preciso de ter mais discos em casa?" se coloca, provavelmente no preciso momento em que se decide marcar um café com um amigo para aquela esplanada ao lado da Cash Converters ou daquele secret spot que não se partilha com mais ninguém. E a alma acalma-se apenas quando nos recordamos que ninguém procura discos porque precisa, mas porque quer. Fazer diggin' é abraçar a constante possibilidade de se ser surpreendido, abrir a cabeça a um praticamente infinito número de coordenadas que, no mesmo dia, no mesmo spot, nos pode impelir nas mais distintas direcções: antes de ontem, por exemplo - dois discos de Joan Baez, um de Peter Green, um de Chubby Checker, outro de Herman's Hermits, um álbum produzido por Gino Soccio, outro assinado pelos Voyage e outro ainda dos Space colocaram folk, british invasion pop, rhythm n' blues e limbo (check the cover!!!) e disco sound no mesmo saco. E pelo preço de um simples CD. Como é claro, será difícil mantermo-nos a par das mais recentes edições no tipo de lojas onde se encontram lotes destes, mas não é disso que se trata aqui e, para falar verdade, não conheço nenhum digger convicto que tenha voltado as costas ao presente. Melhor ainda: acho que os diggers a sério são os que encontram no presente os estímulos para explorar o passado.
A quem interessará este tipo de procura, então? A todos os que acham que a boa música não tem um prazo de validade. Claro que ficar excitado com a possibilidade revelada na capa de três álbuns de Agnaldo Timóteo da década de 70 (capas daquelas têm que enquadrar pelo menos um par de gestos funky) pode não valer "hipster points" a ninguém, mas ainda assim isso não impede que quem não resiste a essa compra na Cash Converters de Benfica possa também saber quem é Hudson Mohawke ou James Pants ou Jay Electronica ou Flying Lotus ou whatever. Passado e presente não são mutuamente exclusivos, embora haja quem se desvie do seu natural caminho para tentar impôr essa noção.
Portanto, claro que nunca haverá discos que cheguem se o que se abraça é o universo inteiro que liga géneros, épocas e artistas das mais diversas latitudes. Marcar o tal encontro para o dia e a área em que também se realiza a feira de velharias é perfeitamente compreensível: chega-se meia hora mais cedo e com um bocado de sorte além de uma boa conversa ainda se levará para casa mais uma ponta de mais um novelo que importa desenrolar.
É disto que se vai falar no sábado, na Crew Hassan (Rua do Coliseu dos Recreios), entre as 16 e as 18 horas. Mais info aqui.
A quem interessará este tipo de procura, então? A todos os que acham que a boa música não tem um prazo de validade. Claro que ficar excitado com a possibilidade revelada na capa de três álbuns de Agnaldo Timóteo da década de 70 (capas daquelas têm que enquadrar pelo menos um par de gestos funky) pode não valer "hipster points" a ninguém, mas ainda assim isso não impede que quem não resiste a essa compra na Cash Converters de Benfica possa também saber quem é Hudson Mohawke ou James Pants ou Jay Electronica ou Flying Lotus ou whatever. Passado e presente não são mutuamente exclusivos, embora haja quem se desvie do seu natural caminho para tentar impôr essa noção.
Portanto, claro que nunca haverá discos que cheguem se o que se abraça é o universo inteiro que liga géneros, épocas e artistas das mais diversas latitudes. Marcar o tal encontro para o dia e a área em que também se realiza a feira de velharias é perfeitamente compreensível: chega-se meia hora mais cedo e com um bocado de sorte além de uma boa conversa ainda se levará para casa mais uma ponta de mais um novelo que importa desenrolar.
É disto que se vai falar no sábado, na Crew Hassan (Rua do Coliseu dos Recreios), entre as 16 e as 18 horas. Mais info aqui.
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Workshop de diggin'
quarta-feira, 15 de abril de 2009
África Eléctrica # 25
A emissão # 25 do África Eléctrica decorreu, como explico logo no início, sem mapa e ao sabor dos discos que me apetecia ouvir naquele momento: abertura com Lafayette Afro Rock Band, depois vem Orlando Julius, Tunde Williams, Super Negro Bantous, Oriental Brothers e Matata a fechar a primeira hora. Na segunda parte desta emissão há uma viagem pelo legado mais funky de África, recorrendo a compilações da Analog Africa ou da Soundway e optando pelo formato mais livre de um dj set.
África Eléctrica # 25 - 1ª hora
África Eléctrica # 25 - 2ª hora
África Eléctrica # 25 - 1ª hora
África Eléctrica # 25 - 2ª hora
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África Eléctrica
Arpadys ao vivo em Londres
Ainda há fenómenos curiosos despoletados pelo universo do coleccionismo e do diggin': uma banda que nunca ultrapassou as paredes do estúdio, mas que criou um clássico que demorou 30 anos para encontrar o seu verdadeiro público (sinal de que estava à frente do seu tempo), apresenta-se finalmente ao vivo a convite de uma comunidade de djs que muito contribuiu para que o referido álbum se tornasse num holy grail. Falo dos Arpadys do grande baixista Sauveur Mallia veterano dos estúdios da companhia de library music Tele Music que recentemente foi alvo de um projecto de remisturas conduzido pelos responsáveis do site DJ History: está tudo aqui.
A proósito desse álbum de remisturas, e porque o presente assim o exige, os Arpadys responderam favoravelmente a um desafio e vão subir ao palco do Cargo, em Londres, a 30 de Abril, para uma noite de absoluto luxo. Da newsletter do Dj History:
A proósito desse álbum de remisturas, e porque o presente assim o exige, os Arpadys responderam favoravelmente a um desafio e vão subir ao palco do Cargo, em Londres, a 30 de Abril, para uma noite de absoluto luxo. Da newsletter do Dj History:
For those of you not au fait with these disco legends, the Arpadys musicians were the men behind Voyage, Cerrone, Don Ray, Crystal Grass and countless other great French productions. After our storming remixes of their Tele Music sessions on Le Disco, they've agreed to play live together for the very first time. We've coaxed them away from their glasses of Pastis and croque monsieurs for a killer evening of cosmic disco to celebrate the launch of our Le Disco album (soon on vinyl and CD) and Disco Files book. DJ support from the Idjut Boys, Toby Tobias, Jonny 5 and Bill Brewster. Tickets for this once-in-a-lifetime gig are a trifling £8. Arpadys, April 30, Cargo, £8.
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Arpadys,
Tele Music
A Lollipop no Flash
A propósito do Record Store Day, a simpática Flur convidou-me para, aos microfones da Oxigénio, recordar os dias da Lollipop, loja do Bairro Alto que ajudei a orientar com o Rui Vargas (numa primeira fase) e depois com João Gomes e Tiago Santos (já perto do final, em 98). Na conversa com o Zé António Moura da Flur acabei por não ter oportunidade de explicar de onde vinha o nome da loja - a capa de disco que aqui incluo desvenda esse "mistério".
O programa está disponibilizado no blogue da Flur - que aliás tem vindo a proporcionar uma interessante leitura com as respostas ao inquérito que lançaram (a que eu também respondi, embora ainda não se encontrem online as minhas respostas) - e pode também ser descarregado a partir deste post.
Flash # 44 com Rui Miguel Abreu
O programa está disponibilizado no blogue da Flur - que aliás tem vindo a proporcionar uma interessante leitura com as respostas ao inquérito que lançaram (a que eu também respondi, embora ainda não se encontrem online as minhas respostas) - e pode também ser descarregado a partir deste post.
Flash # 44 com Rui Miguel Abreu
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Flur,
Lollipop,
Record Store Day
segunda-feira, 13 de abril de 2009
O Dia das Lojas de Discos - Sábado, 18 de Abril
No próximo sábado assinala-se o Record Store Day e por cá a Flur festeja o dia com uma mão cheia de bem vindas iniciativas (no mesmo dia, mesmo sem ter planeado, haverá um Workshop sobre diggin' - a actividade de comprar discos, muitos dos quais em lojas - por isso parece que os astros estão alinhados).
Como é mais do que óbvio, a vontade de abraçar o futuro é saudável, natural e desejável. Mas não me parece que um futuro sem lojas de discos seja muito saudável, natural ou desejável. Quem realmente gosta de música terá certamente histórias para contar que envolvem um dos lados de um balcão de uma qualquer loja de discos. Eu conheço os dois lados dessa linha divisória e posso garantir que aprendi imenso em cada um deles. E esse conhecimento acumulado não se pode angariar em frente a um ecrã de computador, por muito que os programas desenhados para as lojas online nos bombardeiem com sugestões: "quem comprou esse disco adquiriu igualmente estes 4". A Flur é um desses sítios onde é possível aprender muito porque todas as pessoas que ali trabalham, sem excepção, são apaixonadas por música. Sábado, será possível celebrar essa paixão.
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Record Store Day
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Rip it up # 4: King Floyd - Think about it
Uma das minhas últimas passagens pelas feiras da zona de Oeiras rendeu, por 2 euros, um King Floyd de prensagem americana original na ATCO, etiqueta da Atlantic. O álbum foi gravado em 1973 em Jackson, Mississippi e produzido por Elijah Walker. Nesta época a Atlantic mandava pessoas de Nova Iorque para investigarem o que faziam etiquetas mais pequenas e foi exactamente dessa forma que King Floyd foi descoberto. O interessante destas gravações é a honestidade que contêm: sem truques absolutamente nenhuns, isto é soul da mais transparente que existe, com músicos de grande calibre a debitarem alma de cada vez que o engenheiro grita "rolling tape". Para lá das canções (e este é um belíssimo disco com grandes canções), o que me fascina aqui é o som - de cada vez que o baterista acerta na tarola quase dá a impressão que se pode ver a sala onde estão a decorrer as gravações. A minha agulha não está na melhor das formas e vai-se abaixo nas frequências mais altas, não fazendo justiça aos hi-hats e à secção de metais. Mas para os que aí foram procuram papinha para o sampler, talvez os drums que se encontram no início destes wavs sejam úteis (se não conseguem samplar de vinil, pelo menos tentem arranjar wavs e não samplem mp3, vá lá...!). Para ouvir o álbum todo, recomendo uma passagem por aqui.
King Floyd - do your feeling
King Floyd - hard to handle
King Floyd - woman don't go astray
King Floyd - do your feeling
King Floyd - hard to handle
King Floyd - woman don't go astray
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Rip it up
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Chart 2: weekendin'
São raros estes momentos, em que finalmente podemos respirar fundo, ainda que só por um segundo e mesmo com uma "to do list" bem à frente do nosso nariz que não nos deixa embarcar em grandes ilusões de tempo livre. Mas finjamos que sim, que o fim de semana se estende glorioso, invulgarmente dilatado por uma sexta-feira que dizem que é santa (bem dita sexta-feira, digo eu, que cai nesta semana que nem ginjas), e vamos fazer um plano de audições para servir de banda sonora ao "descanso". Depois de uns dias em Londres, onde tive oportunidade de estar com o Fred Somsen da extinta Ananana no escritório europeu da Drag City, que agora dirige, há uns discos novos na prateleira das aquisições recentes. É aí que nasce esta lista - nas novidades recém adquiridas (ou recebidas...!):
Weekendin'
Bachelorette - My Electric Family (drag city)
Death - ...For The Whole World To See (drag city)
Bill Callahan - Sometimes i wish we were an eagle (drag city)
the byrds - younger than yesterday (columbia)
The Heliocentrics - Sirius B (now again)
Wee - You can fly on my aeroplane (numero)
The George Edwards Group - 38:38 (drag city)
The Whitefield Brothers feat. Guilty Simpson - Dreads/American Nightmare (now again)
Nathan Davis - The Best of Nathan Davis '65-76 (jazzman)
Ofege - Try and Love (academy)
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Chart
quarta-feira, 8 de abril de 2009
África Eléctrica # 24
Mulatu Astatke e os Heliocentrics têm um álbum na série Inspiration Information da Strut e esse foi o mote para mais uma sessão de exploração do imenso e incrível continente negro na 24ª emissão de África Eléctrica. Há mais: Kaleta & Zozo Afrobeat e um set de Frank Gossner na segunda hora. Boa audição!
África Eléctrica # 24 - 1ª hora
África Eléctrica # 24 - 2ª hora
África Eléctrica # 24 - 1ª hora
África Eléctrica # 24 - 2ª hora
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África Eléctrica
Booker T de regresso
Booker T Jones está de regresso ao activo e logo na Anti, a mesma editora de, entre muitos outros, Tom Waits. Não são comuns estes regressos e sobretudo não será comum ver um homem como Booker T gravar um álbum com os Drive By Truckers por banda de suporte e Neil Young como um dos convidados (embora, como é óbvio, os MG's tenham sido um bem sucedido caso de integração no seu próprio tempo). O álbum inclui ainda uma versão de «Get Behind The Mule» de Tom Waits e é sujo, pesado e denso como os melhores registos de blues. A apresentação da editora:
Caso estejam na dúvida, este é o Booker T de que estou a falar:
Trailblazing soul man Booker T Jones has written the most audacious chapter of his career with Potato Hole, his first solo album in decades and the natural evolution of his groundbreaking work leading Booker T and the MGs in the 1960s. Backed by the Drive-By Truckers with Booker's signature Hammond B3, Potato Hole is raw and edgy, fun and innovative. Produced by Rob Schnapf & Booker T.
Caso estejam na dúvida, este é o Booker T de que estou a falar:
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The MGs
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Verve Originals: a febre latina
Em 1961 Norman Granz vendeu a Verve à MGM e Creed Taylor (o “c” e o “t” da CTI) foi recrutado para dirigir o selo. Carregado de energia depois de ter estabelecido a Impulse na ABC, Taylor tomou uma série de decisões executivas de imediato – nomeadamente a contratação agressiva de alguns nomes de peso, como Stan Getz ou Bill Evans – e apontou o seu catálogo ao grande público. Nesta era, ainda antes dos Beatles redefinirem as coordenadas da indústria musical, a divisão era clara: rock and roll era coisa de adolescentes e o jazz a música de adultos responsáveis. Sobretudo “este” jazz. Alheio às revoluções estéticas que sacudiam o jazz nesta época, Creed Taylor delineou uma estratégia que colocava claramente o lucro antes da arte e o impacto antes da invenção. Com o público americano ainda imerso numa ideia muito particular de exotismo – bem expressa nas “febres” do Mambo ou na “tiki culture” que celebrava toda a ilha que tivesse um vulcão e nativas com saias de palha – Taylor apontou as suas armas à bossa nova que ecoava nos apartamentos do Rio de Janeiro e foi um dos responsáveis por trazer o género para a América. Ponta de lança no seu catálogo para essa missão? Stan Getz. Aproveitando o facto de Charlie Byrd ter regressado de uma digressão pelo Brasil apoiada pelo Departamento de Estado americano, Getz iniciou em 1962 uma série de gravações que se revelariam chave para impor a bossa nova nos Estados Unidos, a primeira das quais “Jazz Samba”, com a participação de Byrd.
A série Originals da Verve deixa agora bem claro esse namoro com as sonoridades latinas ao disponibilizar um conjunto de títulos onde essa linha é explorada em diversas frentes. Do período “brasileiro” de Getz, foi reeditado o enorme “Big Band Bossa Nova”, gravado no Verão de 1962. Com excepção do balanço proporcionado pela pandeireta e pela cabaça, executados por José Paulo e Carmen Costa, todos os outros instrumentos são executados por músicos americanos (Jim Hall estabelece a ligação directa à bossa do Rio com a sua guitarra), deixando bem claro que esta era uma leitura jazz de um universo novo, o que até pode soar como um choque ao apostar no encaixe do intimismo da bossa na larga escala de uma big band. O álbum abre com a belíssima “Manhã de Carnaval” de Luiz Bonfá (que não demoraria ele próprio a gravar para a Verve) e por entre uma série de composições de Gary McFarland, que orquestra o disco com profundo bom gosto, há ainda tempo para incluir peças dos mestres Jobim e Gilberto, “Chega de Saudade”, “Samba de Uma Nota Só” e “Bim Bom”, entregues com swing, elegância e panache. E Getz soa grande nestas gravações, pleno de lirismo nas suas divagações apaixonadas.
Em Dezembro de 1962, Luiz Bonfá foi chamado a Nova Iorque para registar mais uma entrada no catálogo da Verve devotada à bossa nova. Com Lalo Schifrin ao piano e a “ajuda” do guitarrista Óscar Castro-Neves, Bonfá desfila charme por 12 miniaturas profundamente líricas (temas de dois minutos em álbuns de jazz devem ser raros…). O autor do standard Manhã de Carnaval impressionou certamente com a sua actuação no festival de bossa nova que o Carnegie Hall recebeu em Novembro de 62, pois no final de Dezembro estava em estúdio a gravar um álbum onde os seus três lados – o de cantor, o de guitarrista e o de autor – são explorados num conjunto admirável de composições (11 das 13 têm a sua assinatura).
Lalo Schifrin, pianista argentino celebrado nos Estados Unidos pela sua extensa obra no campo das bandas sonoras (de “Missão Impossível” ao clássico de Bruce Lee “Enter The Dragon”, são muitos os scores para filmes de acção com a marca Schifrin), gravou igualmente uma série de aproximações ao balanço do Rio De Janeiro, incluindo este “Piano Strings and Bossa Nova”, de 1962, registado pouco tempo depois de ter deixado a companhia de Dizzy Gillespie, com quem trabalhou durante dois anos como pianista e arranjador. Schifrin é um músico com uma extrema sensibilidade rítmica e um vasto domínio de linguagens e tradições, o que lhe confere perfeita autoridade para abordar o universo da bossa, que entende como uma tela em branco que lhe permite expor o seu lado mais introspectivo. O resultado é, pois claro, intensamente brilhante.
“Cal Tjader Plays The Contemporary Music of México and Brazil” é outra entrada de peso na série Originals. Vibrafonista sólido, Tjader trabalhou com navegantes do “third stream” como Dave Brubeck e George Shearing, mas nos anos 50 o trabalho de Tito Puente e Machito em Nova Iorque atraiu-o irremediavelmente para a esfera latina onde revelou uma natural fluidez, encaixando-se na perfeição por cima das descargas rítmicas executadas pelos músicos latinos com quem ia colaborando (notáveis como Eddie Palmieri ou Mongo Santamaria). Neste álbum, Tjader atravessa a fronteira duas vezes, para o México e para o Brazil, em busca de exotismo que explora com classe, não revelando no entanto o rasgo que marcaria o seu maior êxito, “Soul Sauce”, de 64: há por aqui trabalho, mas Tjader nunca chega a largar um pingo de suor, tudo é mais contido do que o reportório pedia.
Mais “out” é sem dúvida o álbum de Willie Bobo, “Bobo Motion”. Mestre de todas as coisas “boogaloo”, Bobo tocou juntamente com Mongo Santamaria no Modern Mambo Quintet de Cal Tjader e emprestou os seus ritmos a notáveis como Tito Puente ou Dizzy Gillespie. Neste álbum, o declarado sonho de Willie de criar “a perfeita mistura de jazz, música latina, pop, rock e rhythm n’ blues” está claramente em marcha, levando a música mais para os clubes de dança e menos para os salões frequentados por Tjader ou Schifrin. Em “Evil Ways” Bobo prenuncia mesmo o futuro som da Nova Iorque latina – ritmos lentos, mas pesados, plenos de sensualidade, onde o jazz, os modos latinos e o r&b se cruzam sem vergonha.
Finalmente, o lote latino das mais recentes reedições da Originals, fecha-se com outro peso pesado: o pianista Ramsey Lewis que surge aqui com “Goin’ Latin”. A base é fornecida pelo trio que forma com Cleveland Eaton no baixo e Maurice White (que alcançaria uma desmedida fama nos anos 70 como vocalista e líder dos Earth, Wind & Fire!!!) na bateria. Este é também o mais tardio registo deste grupo de reedições: em 1967 outras revoluções de carácter social estavam em marcha e isso manifesta-se no peso de temas como “One, Two, Three” e na entrega a baladas como “Free Again”, sentindo-se Lewis igualmente à vontade em ambos os registos. O facto de ter encimado tabelas de vendas com trabalhos como “The In Crowd” ou “Wade in the Water” serve para atestar o facto de Lewis ter sido sempre um comunicador, qualidade que nunca sacrificou em detrimento de algum desejo mais exploratório. Uma vez mais, é música que soa melhor num clube do que num salão e aqui sim, percebe-se que há pingos de suor a sublinharem uma entrega mais física.
A série Originals da Verve deixa agora bem claro esse namoro com as sonoridades latinas ao disponibilizar um conjunto de títulos onde essa linha é explorada em diversas frentes. Do período “brasileiro” de Getz, foi reeditado o enorme “Big Band Bossa Nova”, gravado no Verão de 1962. Com excepção do balanço proporcionado pela pandeireta e pela cabaça, executados por José Paulo e Carmen Costa, todos os outros instrumentos são executados por músicos americanos (Jim Hall estabelece a ligação directa à bossa do Rio com a sua guitarra), deixando bem claro que esta era uma leitura jazz de um universo novo, o que até pode soar como um choque ao apostar no encaixe do intimismo da bossa na larga escala de uma big band. O álbum abre com a belíssima “Manhã de Carnaval” de Luiz Bonfá (que não demoraria ele próprio a gravar para a Verve) e por entre uma série de composições de Gary McFarland, que orquestra o disco com profundo bom gosto, há ainda tempo para incluir peças dos mestres Jobim e Gilberto, “Chega de Saudade”, “Samba de Uma Nota Só” e “Bim Bom”, entregues com swing, elegância e panache. E Getz soa grande nestas gravações, pleno de lirismo nas suas divagações apaixonadas.
Em Dezembro de 1962, Luiz Bonfá foi chamado a Nova Iorque para registar mais uma entrada no catálogo da Verve devotada à bossa nova. Com Lalo Schifrin ao piano e a “ajuda” do guitarrista Óscar Castro-Neves, Bonfá desfila charme por 12 miniaturas profundamente líricas (temas de dois minutos em álbuns de jazz devem ser raros…). O autor do standard Manhã de Carnaval impressionou certamente com a sua actuação no festival de bossa nova que o Carnegie Hall recebeu em Novembro de 62, pois no final de Dezembro estava em estúdio a gravar um álbum onde os seus três lados – o de cantor, o de guitarrista e o de autor – são explorados num conjunto admirável de composições (11 das 13 têm a sua assinatura).
Lalo Schifrin, pianista argentino celebrado nos Estados Unidos pela sua extensa obra no campo das bandas sonoras (de “Missão Impossível” ao clássico de Bruce Lee “Enter The Dragon”, são muitos os scores para filmes de acção com a marca Schifrin), gravou igualmente uma série de aproximações ao balanço do Rio De Janeiro, incluindo este “Piano Strings and Bossa Nova”, de 1962, registado pouco tempo depois de ter deixado a companhia de Dizzy Gillespie, com quem trabalhou durante dois anos como pianista e arranjador. Schifrin é um músico com uma extrema sensibilidade rítmica e um vasto domínio de linguagens e tradições, o que lhe confere perfeita autoridade para abordar o universo da bossa, que entende como uma tela em branco que lhe permite expor o seu lado mais introspectivo. O resultado é, pois claro, intensamente brilhante.
“Cal Tjader Plays The Contemporary Music of México and Brazil” é outra entrada de peso na série Originals. Vibrafonista sólido, Tjader trabalhou com navegantes do “third stream” como Dave Brubeck e George Shearing, mas nos anos 50 o trabalho de Tito Puente e Machito em Nova Iorque atraiu-o irremediavelmente para a esfera latina onde revelou uma natural fluidez, encaixando-se na perfeição por cima das descargas rítmicas executadas pelos músicos latinos com quem ia colaborando (notáveis como Eddie Palmieri ou Mongo Santamaria). Neste álbum, Tjader atravessa a fronteira duas vezes, para o México e para o Brazil, em busca de exotismo que explora com classe, não revelando no entanto o rasgo que marcaria o seu maior êxito, “Soul Sauce”, de 64: há por aqui trabalho, mas Tjader nunca chega a largar um pingo de suor, tudo é mais contido do que o reportório pedia.
Mais “out” é sem dúvida o álbum de Willie Bobo, “Bobo Motion”. Mestre de todas as coisas “boogaloo”, Bobo tocou juntamente com Mongo Santamaria no Modern Mambo Quintet de Cal Tjader e emprestou os seus ritmos a notáveis como Tito Puente ou Dizzy Gillespie. Neste álbum, o declarado sonho de Willie de criar “a perfeita mistura de jazz, música latina, pop, rock e rhythm n’ blues” está claramente em marcha, levando a música mais para os clubes de dança e menos para os salões frequentados por Tjader ou Schifrin. Em “Evil Ways” Bobo prenuncia mesmo o futuro som da Nova Iorque latina – ritmos lentos, mas pesados, plenos de sensualidade, onde o jazz, os modos latinos e o r&b se cruzam sem vergonha.
Finalmente, o lote latino das mais recentes reedições da Originals, fecha-se com outro peso pesado: o pianista Ramsey Lewis que surge aqui com “Goin’ Latin”. A base é fornecida pelo trio que forma com Cleveland Eaton no baixo e Maurice White (que alcançaria uma desmedida fama nos anos 70 como vocalista e líder dos Earth, Wind & Fire!!!) na bateria. Este é também o mais tardio registo deste grupo de reedições: em 1967 outras revoluções de carácter social estavam em marcha e isso manifesta-se no peso de temas como “One, Two, Three” e na entrega a baladas como “Free Again”, sentindo-se Lewis igualmente à vontade em ambos os registos. O facto de ter encimado tabelas de vendas com trabalhos como “The In Crowd” ou “Wade in the Water” serve para atestar o facto de Lewis ter sido sempre um comunicador, qualidade que nunca sacrificou em detrimento de algum desejo mais exploratório. Uma vez mais, é música que soa melhor num clube do que num salão e aqui sim, percebe-se que há pingos de suor a sublinharem uma entrega mais física.
Stan Getz
Big Band Bossa Nova
Verve
Stan Getz (saxofone tenor); Bernie Glow, Doc Severinsen (trompete); Ray Alonge (trompa), Tony Studd, Bob Brookmeyer (trombones); Ed Caine, Gerald Safino (flautas); Ray Beckenstein, Romeo Penque (clarinetes); Hank Jones (piano); Jim Hall (guitarra); Tommy Williams (baixo); Johnny Rae (bateria); Carmen Costa, José Paulo (percussões); Gary McFarland (arranjos).
Nova York, 27 de Agosto, 1962
Luiz Bonfá
Bossa Nova
Verve
Luiz Bonfá (guitarra, voz); Leo Wright (flauta); Oscar Castro Neves (piano, orgão); Iko Castro Neves (baixo); Roberto Pontes Dias (bateria); Henri Percy Wilcox (guitarra eléctrica); Maria Toledo (voz); Lalo Schifrin (piano, arranjos).
Nova Iorque, 30 e 31 de Dezembro, 1962
Willie Bobo
Bobo Motion
Verve
Willie Bobo (percussão); Bert Keyes & Sonny Henry (arranjos).
Nova Iorque, 1967
Cal Tjader
Cal Tjader plays the Contemporary Music of Mexico and Brazil
Verve
Cal Tjader (vibrafone); Freddie Schreiber (baixo); Johnny Era (tímbales e bateria); Chonguito (congas); Clare Fischer (piano e arranjos); Ardeen deCamp (voz); John Lowe, Don Shelton, Paul Horn, Gene Sipriano (sopros); Milt Holland (percussão), Laurindo Almeida (guitarra).
Hollywood, 5, 6 e 7 de Março de 1962
Ramsey Lewis
Goin’ Latin
Verve
Ramsey Lewis (piano); Cleveland Eaton (baixo); Maurice White (bateria)
Chicago, 21, 22 e 23 de Dezembro de 1966
Lalo Schifrin
Piano, Strings and Bossa Nova
Verve
Lalo Schifrin (piano, arranjos); Chris White (baixo); Rudy Collins (bateria); Jim Hall (guitarra); Carmen Costa, José Paulo (percussões).
Nova Iorque, 23 e 24 de Outubro de 1962
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Willie Bobo
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Analog Africa: novo lançamento
Depois das edições dedicadas aos Green Arrows e à Orchestre Poly-Rytmo de Cotonou e, claro, da excelente compilação African Scream Contest, a invariavelmente excelente Analog Africa volta a dar notícias. No próximo mês de Maio será editada nova compilação que recolhe argumentos, uma vez mais, no Benin, terreno fértil para propostas poderosíssimas de Afro Funk e local de peregrinação por excelência de Samy Ben Redjeb, homem do leme desta editora.
A collection of super rare and highly danceable masterpieces recorded between 1969 -1981 by four legendary composers from Benin:
ANTOINE DOUGBÉ
EL REGO et Ses Commandos
HONORÉ AVOLONTO
GNONNAS PEDRO & His Dadjes Band
each one of them with their own distinctive sound. This compilation comes with a 40 page full colour booklet with ultra rare pictures and biographies. Fasten your seat belt and enjoy the mind-blowing sound of Benin.
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África,
Analog Africa
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Numero Group Eccentric Soul Revue
A fundamental Numero Group vai apresentar um enorme espectáculo este próximo sábado. Infelizmente acontece longe: Chicago, Illinois! Com gigantes como Syl Johnson, esta adivinha-se como a mais quente noite do ano em todo o planeta. Desenvolvimentos na preparação deste espectáculo podem acompanhar-se aqui. Agora, se alguma alma caridosa quiser enviar-me um bilhete de avião e reservar uma limusine para esperar por mim no aeroporto de Chicago, eu ficarei muito agradecido.
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Numero Group
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