quinta-feira, 16 de abril de 2009

Workshop de diggin: Crew Hassan, 18 de Abril II

Chega uma altura na vida de todos os diggers em que a terrível pergunta "será que eu preciso de ter mais discos em casa?" se coloca, provavelmente no preciso momento em que se decide marcar um café com um amigo para aquela esplanada ao lado da Cash Converters ou daquele secret spot que não se partilha com mais ninguém. E a alma acalma-se apenas quando nos recordamos que ninguém procura discos porque precisa, mas porque quer. Fazer diggin' é abraçar a constante possibilidade de se ser surpreendido, abrir a cabeça a um praticamente infinito número de coordenadas que, no mesmo dia, no mesmo spot, nos pode impelir nas mais distintas direcções: antes de ontem, por exemplo - dois discos de Joan Baez, um de Peter Green, um de Chubby Checker, outro de Herman's Hermits, um álbum produzido por Gino Soccio, outro assinado pelos Voyage e outro ainda dos Space colocaram folk, british invasion pop, rhythm n' blues e limbo (check the cover!!!) e disco sound no mesmo saco. E pelo preço de um simples CD. Como é claro, será difícil mantermo-nos a par das mais recentes edições no tipo de lojas onde se encontram lotes destes, mas não é disso que se trata aqui e, para falar verdade, não conheço nenhum digger convicto que tenha voltado as costas ao presente. Melhor ainda: acho que os diggers a sério são os que encontram no presente os estímulos para explorar o passado.
A quem interessará este tipo de procura, então? A todos os que acham que a boa música não tem um prazo de validade. Claro que ficar excitado com a possibilidade revelada na capa de três álbuns de Agnaldo Timóteo da década de 70 (capas daquelas têm que enquadrar pelo menos um par de gestos funky) pode não valer "hipster points" a ninguém, mas ainda assim isso não impede que quem não resiste a essa compra na Cash Converters de Benfica possa também saber quem é Hudson Mohawke ou James Pants ou Jay Electronica ou Flying Lotus ou whatever. Passado e presente não são mutuamente exclusivos, embora haja quem se desvie do seu natural caminho para tentar impôr essa noção.
Portanto, claro que nunca haverá discos que cheguem se o que se abraça é o universo inteiro que liga géneros, épocas e artistas das mais diversas latitudes. Marcar o tal encontro para o dia e a área em que também se realiza a feira de velharias é perfeitamente compreensível: chega-se meia hora mais cedo e com um bocado de sorte além de uma boa conversa ainda se levará para casa mais uma ponta de mais um novelo que importa desenrolar.
É disto que se vai falar no sábado, na Crew Hassan (Rua do Coliseu dos Recreios), entre as 16 e as 18 horas. Mais info aqui.

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