segunda-feira, 29 de junho de 2009

DJ Ride - viajante do espaço

Dj Ride não pára: editou muito recentemente o ep Beat Journey na Optimus Discos, viaja já no próximo dia 2 até Londres para duas apresentações (agenda preenchidíssima pode checar-se no MySpace) e ainda arranjou tempo para realizar esta entrevista com o 2/4 The Bass. Pelo meio, uma ética rigorosa de trabalho que lhe tem permitido registar avanços espantosos na música que produz e que o coloca na linha dianteira do que de melhor se faz na sua área. Dentro e fora de portas: o talento de DJ Ride tem que se medir à escala internacional!
Esta entrevista veio com um desafio para ofecer qualquer coisa aos leitores do blog. Talvez um dj set... Mas DJ Ride fez outra proposta: pediu-me um sample e em troca produziria um beat inédito para se distribuir a partir do 2/4 the Bass. Enviei-lhe «Allegro for Martenot» de John Leach, entrada clássica no catálogo de library da KPM. Ride é actualmente um produtor com um enorme fascínio pelos sintetizadores analógicos e por isso pensei que um antepassado desses artefactos - como o Ondes Martenot - cairia bem numa das suas produções. O resultado, cozinhado em apenas algumas horas (esse imediatismo era parte do desafio) está ao alcance de todos os que fizerem clique mais abaixo. Mas, para já, a entrevista.

Tens um novo ep na rua, Beat Journey: explica-nos que viagem é esta que andas a fazer pelo mundo da música?
Acima de tudo é absorver tudo aquilo que gosto e que me influencia, pegar em mil e uma sonoridades e tentar fundi-las com o meu toque pessoal, com a minha assinatura. Neste momento, mais do que nunca, ando à procura de coisas exóticas, diferentes do normal, desde discos antigos mais psicadélicos (que estão na origem do tema Hard Dayz por exemplo), até a electrónica experimental dos anos 70, dubstep ou esta nova vaga de beats que alguns apelidam de ‘wonky’. Quando entreguei o disco finalizado ao Henrique Amaro pensei que se calhar tinha ido um bocadinho longe de mais no que toca ao lado experimental e ao uso de certos sons de sintetizador, etc. Afinal de contas ia ser disponibilizado no site ‘Optimus Discos’, não fazia a mínima ideia do ‘target’, de quem iria fazer o download do disco. Hoje, passado 2 meses de estar online, e de alguns milhares de downloads depois, estou mesmo muito contente pela forma como foi editado, e o feedback tem sido incrível.

Desde a edição de Turntable Food a tua vida mudou muito: títulos como dj, aplausos enquanto produtor. Como é que lidas com isso?
Lido bem! Sinto sempre grande pressão em tudo o que faço, porque a fasquia está sempre muito elevada, mas dou-me bem com isso. O único senão é andar sempre ansioso pela concretização dos projectos e às vezes pensar no país onde vivo: estou sempre com a sensação que o número de pessoas que entendem a sério o meu trabalho é muito pequeno, ao contrário do que acontece lá fora, mas isso dá-me ainda mais força para trabalhar.

Tens uma disciplina de trabalho muito rígida. Produzes todos os dias?
Sem dúvida. Sem disciplina não se chega a lado nenhum. Quando estou nas Caldas produzo todos os dias, é lá que tenho o meu estúdio. Quando estou em Lisboa, aproveito para me dedicar a outra parte, procura de som novo, diggin, treinar, comprar musica, tratar dos booking’s, etc.

Explica-nos qual é o teu set up hoje em dia: com que ferramentas é que fizeste o Beat Journey?
Ao contrário do que possa parecer, usei muito poucos samples no Beat Journey, 90% é mesmo tocado. A lista de material é grande, tenho finalmente um MOOG, JP8000, FANTOM, JUNO, NORD, a eterna MPC 2000XL, e gravei/misturei tudo no Ableton LIVE, que é o meu software preferido neste momento. Depois tive a ajuda de mais umas coisas, vocoder/talkbox, scratch com o meu próprio tool, a guitarra e percussão do Stereossauro, etc. Neste momento estou a actualizar novamente o estúdio, estou quase a fechar a aquisição de uns quantos bichos novos para o upgrade.

A tecnologia tem evoluído bastante: és daqueles que só vê vantagens nisso ou também adivinhas perigos?
Eu sempre fui um amante de ‘gadget’s’ de todo o tipo, e no que diz respeito a música, por norma ao início sou sempre um bocado céptico, mas depois acabo por me render. Por exemplo ao Serato! Embora não consiga ir para um gig, por mais longe que seja, sem discos cheios de pó… mas sou um caso atípico, hoje em dia compro muito mais vinil do que há 4 anos atrás, mas também compro musica pelo Beatport e etc. é fundamental para me manter actualizado. Como em tudo é uma questão de bom senso, sinto que continuo verdadeiro naquilo que gosto, com computadores ou sem… Mas acredito que daqui a uns tempos muita coisa vai deixar de ter a piada que tem devido aos ‘Plugins’ que fazem tudo num click….

Editaste um ep em vinil antes do Beat Journey pensado como uma DJ Tool. Há mais planos para objectos desses?
Sim, para nós não faria sentido editar um scratch tool e pronto, ficar por ali. Eu e o Stereossauro estamos a trabalhar num novo, com um conceito um pouco diferente do 180 GR, mas dentro do mesmo registo. De um lado beats, do outro lado samples. Estamos a cerca de 2 meses de ter um novo cá fora, e o nosso objectivo principal era dar continuidade a estes Tool’s no futuro.

Na tua última passagem pela Supafly compraste alguns library records. É uma área que te inspira?
Sim, muito mesmo. Quando vejo um disco desses à frente nem me importo com o preço. Ainda para mais, tendo em conta que são discos bastante raros, aumenta em muito a curiosidade. Os samples que tenho apanhado nestes discos são deliciosos…

Tens trabalhado com muita gente: músicos de jazz, mcs, outros produtores de hip hop, outros djs. Achas importante um produtor ter abertura para trabalhar em diversos contextos?
Ser posto à prova é fundamental para um produtor. E sobretudo sair da sua ‘zona’ confortável. Se não existe abertura nem sequer faz sentido pensar em trabalhar noutros contextos. Pessoalmente é das coisas que me motiva mais, estar em contacto com pessoas totalmente diferentes de mim no que toca a abordagem musical de cada um.

Sentes-te mais dj, mais produtor, mais músico?
Musico experimental/beat maker!

Planos para o futuro mais imediato?
Manter este ritmo de trabalho, editar o segundo TOOL, outro EP, outro Álbum, e finalmente tentar lançar algo lá fora.

Neste momento tens igualmente responsabilidades num programa de rádio, como o manipulador da pós produção do Ginga Beat da RBMA na Antena 3. Como é que tem sido aplicar técnicas de produção musical a um programa de rádio?
Este é mais um daqueles projectos que estava bem longe de pensar que iria estar envolvido, quando comecei a produzir. No inicio de tudo, depois de receber o briefing inicial, não queria acreditar naquilo que me estavam a pedir. Fazer scratch nas vozes dos locutores? por glitch's e efeitos.. fazer jingles experimentais, desde ambientes/drones até beat's electrónicos.. para alem da selecção musical que surpreende programa após programa... Só mesmo uma ideia vinda da RBMA. O Ginga Beat tem superado todas as expectativas, e a evolução do programa zero, até agora, passados 5 meses tem sido notória. Tem-me dado um gozo enorme poder contribuir para um programa único, ainda por cima a passar na Ant3na, com a equipa fantástica que temos.

Top 5 de músicas nos teus sets actualmente

Akira Kiteshi : Pinball
Jay z – death of autotune
Bassnectar – art of revolution
Bombstrikes VOL 14
Ride-Beat Journey

Top 5 de produtores actuais

Akira Kiteshi
Dimlite
Siriusmo
Epromm
Harmonic 313

Top 5 de ferramentas

Akai MPD 32 (para os live’s)
LIVE 8 (acabadinho de chegar)
Serato
Tampões para ouvidos
Água

Dj Ride - Allegro Suite (2/4 the Bass Xclusive)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

RIP Michael Jackson

Por esta altura o planeta inteiro já sabe que Michael Jackson desapareceu. Claro que é impossível não ver na história trágica de Michael - e no carácter profundamente perturbado da sua mente - um reflexo da nossa própria humanidade, mas o Michael que hoje se chora é precisamente o que não morreu - o músico, o criador ímpar que ajudou a impôr a Motown como verdadeira força cultural numa América muito diferente daquela que hoje existe. Michael falece aos 50 anos precisamente no ano em que a própria Motown celebra meio século de vida, idade demasiado redonda e perfeita para não servir de impulso ao mito. Criativamente, Michael Jackson já há muito que tinha deixado de ser relevante, mas o facto de ter deixado uma obra absolutamente incólume ao rolo compressor dos media é uma prova clara da grandeza artística da sua vida. Que descanse, finalmente, em paz.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Jazz cover art & blaxploitation na Soul Jazz

A Soul Jazz tem duas grandes novidades para breve:

Freedom, Rhythm & Sound: um livro de 200 páginas com o elucidativo subtítulo «Revolutionary Jazz Cover Art 1965-1983». Trata-se de um levantamento de arte gráfica revolucionária efectuado por Gilles Petterson e Stuart Baker. O livro, como já vem sendo habitual na Soul Jazz, será acompanhado de um lançamento (em cd e lp) que serve de banda sonora à experiência visual.

Can You Dig It?: a famosa frase do filme Warriors serve de moldura conceptual para uma compilação (deluxe double cd/lp and book) que tem por subtítulo «The Music and Politics of Black Action Films 1968-1975». Yummy!

Jazz Bridges # 17: Heavenly Sweetness - Harmonia Celestial

Jazz do espírito com sede em Paris: a Heavenly Sweetness procura a ponte entre o passado e o presente.


Na coluna do passado número, comecei por garantir que as ligações entre o jazz e África são remotas e profundamente espirituais. Por isso, não é surpresa que a faixa de abertura de “Earth Blossom”, raridade de John Betsch inscrita em 1974 no catálogo da Strata East (editora abordada na Jazz Bridges publicada no número 11 da jazz.pt), tenha o título “Ode to Ethiopia”. Mais: em “Cry of the Floridian Tropic Son”, de Al Rahman, alter-ego de Doug Carn (que gravou extensivamente para a Black Jazz Records), há temas como “Casbah” ou “Tropic Sons” que remetem directamente para o continente negro. E quando não é África, é um difuso oriente que se adivinha referenciado em lançamentos de Don Cherry, Doug Hammond (fundador da Tribe, editora que juntamente com a Strata East e a Black Jazz forma uma espécie de santíssima trindade do jazz espiritual) ou Anne Wirz. Todos estes nomes fazem parte do catálogo da Heavenly Sweetness, editora de Paris apostada em cruzar novas produções com recuperações de pérolas perdidas no passado.
Os responsáveis da Heavenly Sweetness não escondem o que lhes vai na alma: em entrevista a uma publicação online revelavam andar imersos na compilação “Spiritual Jazz” da Jazzman (também abordada por aqui) e a ouvir uma gravação de Gracham Moncur III para a Actuel; um dos primeiros maxis que editaram incluía uma versão de “The Creator Has a Master Plan” de Pharoah Sanders e outra de “Maiden Voyage” de Herbie Hancock; criaram alianças a velhas glórias como Doug Hammond ou até Byard Lancaster de quem editaram um single de sete polegadas (verdade, o formato ainda existe!) com dois temas: “Saint John Coltrane” e “Blue Train”. A filiação estética da Heavenly Sweetness não podia ser mais clara, mas o interessante é o facto de não serem meros revisionistas, procurando em estetas do presente como Carlos Niño ou Kieran Hebden (Four Tet) alianças que prolonguem o legado do jazz exploratório que mais lhe interessa.
Peça central do catálogo da Heavenly Sweetness é, sem dúvida, “Earth Blossom”, registo perdido assinado por The John Betsch Society em 74 para a Strata East e finalmente colocado ao alcance de meros mortais que não têm os cerca de 200 dólares por que este álbum normalmente troca de mãos. Betsch, baterista nascido na Florida, mas com um percurso que o conduziu até à capital do country, Nashville, durante a era do flower power, ingressou em 1971 num curso da Universidade do Massachusetts orientado por Archie Shepp e Max Roach. Iluminado pelo afrocentrismo propagado na UMass, mas também pelo espírito livre pós-Woodstock que o tinha levado a participar num psicadélico álbum de Tim Hardin que a Columbia nunca editou, Betsch criou a sua Society em Nashville onde gravou, a 11 de Janeiro de 74, este incrível “Earth Blossom”. Contidamente free, subtilmente psicadélico, este álbum resulta de um compromisso entre uma prática estruturante e um desejo de liberdade, revelando momentos absolutamente tocantes, como é o caso do atmosférico tema-título. John Betsch vive actualmente em França, e daí a ligação à Heavenly Sweetness, e goza os frutos de um vasto currículo que levou o seu caminho a cruzar-se com os de Archie Shepp, Abullah Ibrahim, Mal Waldron ou Steve Lacy. No seu álbum descobre-se também a chave que anima todo o catálogo da Heavenly Sweetness ou carreiras como a de Carlos Niño (cujos recentes “High With a Little Help From” ou “Spaceways Rádio Collage” são deliciosas pérolas de elevação estratosférica) e, a espaços, Madlib: o entendimento do jazz como uma chave para descodificar uma vibração superior, ligando-se às raízes (África) e a novas formas de pensamento (oriente). A Heavenly Sweetness acrescenta um generoso dado novo: apesar de procurarem garantir uma certa “autenticidade” nas gravações que efectuam agora – procurando no take único o registo dos mais genuínos impulsos dos músicos – não recusam o tempo em que vivem e as novas tecnologias electrónicas quando trabalham com os produtores já referidos. Na arte da remistura vêem uma forma de reequacionar as coordenadas que lhes orientam os passos. E a cada novo sete polegadas vão redesenhando o futuro.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Madlib worldwide

Novo podcast com marca Stones Throw e dedo de Madlib.

This is part one of a two-part, hour long jazz mix did for BBC Radio 1's Gilles Peterson Worldwide this week.

Sort of a track list:
Irio De Paula feat. Stephan Gross
Dicci Santucci
The Hamilton Face Band “The Good Guys”
Mystery Track
The Russell Jenkins Outfit “The Drinking Suite” (Stones Throw)
Kenny Cook Octet “Tunes For Pharoah”
Thai Soul Compilation “Thai Boxing”
Prince Jazzbo “Make A Move”
“Psychedelic Joint”
Byron Miller “Panama” (Big One Music)
Rassan Roland Kirk “The Case Of The Mystery Black Notes”
& some other joints

Check out the rest of the show archived for a few more days at:
www.bbc.co.uk/radio1/gillespeterson


Madlib on worldwide Mix

Raridades jazz

Quem ainda elege o vinil como formato preferencial, sobretudo em oposição aos suportes digitais, partilha um daqueles segredos que todos conhecem mas de que poucos ainda se lembram: o que diz que a música também se vê. Para esses foi inventada a expressão "record porn", que traduz um imenso prazer obtido no visionamento de galerias cheias de discos raros. Nalguns casos ao prazer está associada também alguma dor (e também há um nome para isso, não há?...) por tantos desses discos serem praticamente inatingíveis. Ainda assim, o estudo atento das capas pode revelar muita informação - carácter gráfico de algumas editoras, nomes de intérpretes, marcas que o design ostentou em determinadas épocas. etc. Tudo coordenadas úteis para as missões de busca e salvamento no terreno. Toda esta conversa para apresentar um site recheado de incríveis capas de discos de jazz de todo o mundo: o site pertence à Birka Jazz, fabulosa loja sueca online que nos faz a todos desejar termos o mesmo ordenado que Cristiano Ronaldo. Associado a este site há um incrível arquivo carregado de informação visual de raras edições de jazz de vários pontos do globo. Vale muito a pena visitar.

E, já que aqui estamos, abaixo encontram um link para uma mix com este espírito, colocada no fórum Very Good Plus por Benjamin Hatton. Reza assim:

VOLUME ONE : DANCEFLOOR JAZZ AIN'T DEAD

This is the first in a series of mixtapes which seeks to explore various forms of music from a hip hop point of view.

VOLUME ONE : DANCEFLOOR JAZZ AIN'T DEAD

Volume One nods its head to the vibrant and much celebrated jazz dance scene of the late eighties and early nineties, and will hopefully uncover some real musical gems from the sixties and seventies from all points of the globe (Sweden, Japan, Hungary, Canada, Germany, Italy, Argentina etc.).

Rather than funk and soul, I feel that straight ahead jazz has been overlooked in the hip hop world in recent years. Hey maybe that's a good thing! So anyway I've tried to switch up the styles and give you a taste of some big band, bossa nova, latin jazz, hard-hitting fusion.... and some zulu moments where possible!!


VOLUME ONE : DANCEFLOOR JAZZ AIN'T DEAD Mix

sábado, 20 de junho de 2009

The Herbaliser Band - o regresso!

Foi já há quase uma década que os britânicos Herbaliser editaram o clássico «Session One» sob a identidade The Herbaliser Band, amostra do que uma célula de hip hop era capaz de fazer com as ferramentas da criação live - uma banda que soava como o elo perdido entre os Mohawks de Alan Hawkshaw e os projectos de hip hop que no virar da década tinham descoberto a Library Music e os seus poderosos poderes evocativos. O resultado foi um álbum a todos os títulos brilhante (e que muito recentemente, depois de anos a acarinhar esse registo no formato de cd, consegui finalmente arranjar no raro e bastante dispendioso formato de duplo 10 polegadas!). Pois bem, a Herbaliser Band está de regresso com «Session 2», motivo para forte aplauso. Tudo o que necessitam de saber, está aqui em baixo:

Back in 2000, West London’s funky, forward-thinking, experimental hip-hop collective The Herbaliser released their acclaimed double-vinyl album Session 1 Recorded in raw and organic studio jams, these expansive instrumentals marked the group’s evolution from studio boffins to full big-band line-up. The Guardiancalled the album “sterling proof that this kind of music invariably sounds better played by musicians than by a sampler” while Yahoo described it as an “effortlessly cool, super smooth journey around the set of an unmade Blaxploitation movie”.

Almost a decade later, The Herbaliser are in the middle of another new musical evolution. On their 2008 album Same As It Never Was, founder members Jake Wherry
and Ollie Teeba concentrated more than ever on classic soul-pop songwriting with greater collaborative input from long-time horn players Ralph Lamb and Andy Ross, plus new vocalist Jessica Darling. Understandably, they now want to capture this latest live chapter on record.

And the title? Well as Session 1 was always meant to be the start of a series the second instalment had to be called Session 2, naturally. “Back when we recorded the first session we wanted to have a document of what the band sounded like”, says Jake, “but properly recorded in a studio environment, essentially doing what we do live but recorded really well. The boundaries are a bit less distinct now, because we are a lot more musical in our approach. There are still samples involved in our writing, but less than before”.

Session 2 spans more than a decade of Herbaliser live favourites, from the underground beats and breaks of their 1997 album Blow Your Headphones to the more lush, soulful grooves of Same As It Never Was. “It’s interesting that some of these songs are 12 years old, and some just one year old, yet it still feels coherent as an album”, says Jake.

One recurring thread across the album is a clear love of cinematic moods and atmospheres - whether in funky, revved-up, infectious party grooves like “Geddim” and “Amores Bongo” or in psychedelic sci-fi epics like “Moon Sequence” and “Theme From Control Centre”. This may be booty-shaking club music at heart but many of these tracks are as dense and richly detailed as the classic movie scores of Quincy Jones, John Barry or Lalo Schifrin.

“One thing Ollie and I agreed when we started was we didn’t want people to just drop a needle on one of our records and hear the same loop over and over, like many records in the 1990s”, says Jake. “We wanted to have changes, like soundtracks or movie themes. With all our instrumentals, we’re always writing music for scenes in imaginary films”.

Although Jake and Ollie have worked with many MC’s and a couple of singers in recent years, they kept the arrangements on Session 2 as pure instrumentals Future instalments in the series, Jake says, will concentrate on The Herbaliser’s strong track record of vocal collaborations. But this album is a true sequel to Session 1 in both sound and spirit.

“The first Session record was instrumental as well, because we didn’t have a singer then, so we thought it was important to carry on that tradition,” says Jake. “We wanted to create a sound both onstage and live that synchronised both live instruments as well as samples.”

Session 2 is another Herbaliser classic, the sound of an ever-evolving band at the peak of their powers. Forget the old Hollywood rule: sometimes a sequel can be just as good as the original.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Samiyam Vs Zomby

As pontes que se começam a estabelecer são excitantes na sua promessa de novos futuros:

Samiyam compiled this mix of new and old original beats for a Hyperdub showcase on BBC´s Mary Anne Hobbs a few months back. you might recognize some of the tunes but there should be a few cuts you haven´t heard. Also, towards the end of the mix you get a nice piece of Zomby´s BBC mix.

Samiyam - Zomby Mix

Wax Poetics # 35

É cada vez mais uma parte incontornável do meu calendário pessoal de leituras e, certamente, de muitas outras pessoas. O mais recente número da Wax Po chega hoje à Flur e merece toda a nossa atenção. De Roger Troutman a Booker T. Jones, são muitos os nomes de peso que compõem mais este festim para os olhos e para o espírito. Haja tempo e uma esplanada onde mergulhar em mais uma Wax poetics.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

África Eléctrica # 32

Emissão número 32 do África Eléctrica. A primeira hora é construída em torno de Secret Agent, novo álbum de Tony Allen na World Circuit. Claro que o novo disco é igualmente pretexto para um par de espreitadelas ao passado do baterista que Brian Eno afirmou ser o melhor de todos os tempos. Na segunda hora é a compilação Nigeria 70, preciosa peça do catálogo clássico da Strut recentemente reeditada, que angaria a nossa atenção. Boa audição

África Eléctrica # 32 - 1ª hora

África Eléctrica # 32 - 2ª hora

domingo, 14 de junho de 2009

Sun Ra - brother from another planet

Ontem foi-me apresentado um interessante desafio sob a forma de um convite para uma série de conferências. O desafio obrigou-me a pensar em música a partir de um determinado número de parâmetros que estão na base da tal série de conferências. E cheguei a algumas conclusões: tenho que reler a biografia de Sun Ra de John F Szwed (que o Bruno Bénard Guedes me ofereceu há uma dúzia de anos), tenho que comprar mais alguns discos (seguiu já encomenda para mais dois títulos para a Flur) e preciso de desempacotar os meus vinis de jazz para recuperar os meus álbuns do mestre Ra:

445 Ra, Sun The Heliocentric Worlds of Sun Ra II Esp 1966
438 Ra, Sun The Heliocentric Worlds of Sun Ra Vol. 1 ESP/Get Back 1965/200?
439 Ra, Sun Nothing is... ESP/Get Back 1966/200?
442 Ra, Sun The Magic city Impulse 1973
444 Ra, Sun Astro Black Impulse 1973
440 Ra, Sun Nuits de la Fondation Maeght Vol 1 Shandar ?
441 Ra, Sun Nuits de la Fondation Maeght Vol 2 Shandar 1972
443 Ra, Sun Batman & Robin Tifton/Universe 1966/2001
446 Ra, Sun And His Intergalactic Research Arkestra It’s After The End of The World MPS 1970
447 Ra, Sun and His Solar-Myth Arkestra The Solar –Myth Approach Vol 1 Actuel ?
448 Ra, Sun and His Solar-Myth Arkestra The Solar –Myth Approach Vol 2 Actuel ?
449 Ra, Sun Arkestra Hours After Black Saint 1989
450 Ra, Sun Arkestra Reflections in Blue Black Saint 1987


Outra coisa a fazer é visionar o documentário da BBC Brother From Another Planet.

Podem encontrá-lo na íntegra aqui. Primeira parte da versão YouTube aqui em baixo:

sábado, 13 de junho de 2009

Soulman on the mix

No que ao diggin' diz respeito, Soulman foi um dos meus mestres. Depois de algum tempo ausente das lides das break mixes, Soulman voltou a dar novidades no seu blog. É uma mix feita de muitos discos, alguns raros e outros nem por isso, mas sempre com aquela perspectiva sampladélica do hip hop. Didática, como sempre.

Just when you thought I was retired from the break mix game (I thought I was retired too, who knew)... I started working on this mix almost exactly one year ago and finally finished it today while the wife was at the movies with the kids watching Up (they said it was good). The original idea was to do a joint with all kinds of weird records from a bunch of different genres and countries. Somehow, it ended up being all rock records. Or at least records that would probably be filed in the rock section at your friendly neighborhood record shoppe. That's all I'll say about it, other than this is probably one of my weirder mixes- definitely maintaining the basic Soulman style but with some strange deviations from my traditional format as well. I gotta admit this is one of my favorites- I'm rarely pleased with the finished product of anything I do, but I must say that I was very happy with the results this time.
Peep it for yourself down below, and if you like it please feel free to share it with others, post it up on your blog or bootleg that schitt and sell it behind the counter at the corner bodega along with the apple blunts and loosies. It's free, do what you will with it.
P.S. - sorry but I didn't do a tracklist for this and I honestly don't even remember what more than half of these songs are... I just grabbed whatever rock records were laying around at the time and played whatever sounded half decent. Dollar bin to ultra rare psych... it's all over the place.


Soulman - The Truth Is Forever Mix

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Pirate Popular Soundclash


Hoje a partir das 16 horas as ondas hertzianas da Lisboa mais popular vão ser invadidas por um sinal pirata emitido a partir da zona do Adamastor, local que nos últimos anos tem sido palco de uma iniciativa muito particular da Red Bull Music Academy desenhada propositadamente para a noite dos Santos Populares. Este ano, o tradicional soundclash dá lugar a uma emissão de rádio recheada de convidados e com algumas características singulares: essa emissão de rádio, efectuada a partir do Palácio de Santa Catarina, será audível (e até visível...) de várias formas - numa frequência FM pirata (vão rodando os botões dos vossos ghetto blasters, boomboxes, tijolos, aparelhagens caseiras ou autorádios a partir das 16 horas - saberão quando encontrarem esta estação ou então mantenham-se atentos a este espaço!), na plataforma da RBMA Radio, no site da Antena 3 e no soundsystem montado à porta do palácio.
Pelo estúdio do Pirate Popular Soundclash vão passar muitos e diversos convidados que nos trarão sonoridades muito diferentes, live acts, sessões de djing e algumas inspiradas palavras. Tudo para que esta possa ser a melhor noite de sempre no Adamastor. A partir das 16 horas estamos lá. Até logo!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Brasil Meu Amor - Entrevista com DJ Ferrari

Recentemente, um post no sempre interessante fórum Soulstrut conduziu-me até uma excelente mix de título Brasil Meu Amor da autoria de um participativo membro dessa comunidade que responde pelo nome de DJ Ferrari. Depois de contactado por mim, Dj Ferrari aceitou responder a algumas perguntas por mail. As respostas encontram-se abaixo, em inglês. Decidi não traduzir porque os leitores deste blogue entendem perfeitamente a língua de James Brown. Desta maneira ficam a conhecer DJ Ferrari um pouco melhor, têm acesso ao seu site que tem várias outras mixes para descarregar, perfeito combustível para o iPod e para os dias de sol que se aproximam.
Boa leitura e boas audições!

DJ FERRARI - BRASIL MEU AMOR

Can you please introduce yourself? Where are you from, how long have you been djing and collecting?

My name is Ivan aka DJ Ferrari. The name does not originate from the car maker, but rather from my mother, Susan “Red” Ferrari, an accomplished pianist and composer. I live in the San Francisco Bay Area and am a Silicon Valley Marketing professional by day and a hobbyist DJ/producer/record collector by night. I’ve been DJing since 1998, but it took a few years after that to develop an appreciation and obsession for the artifact itself to consider myself a collector.

What would you say are your main areas of interest, musically speaking?

I like to think of my musical tastes as being very diverse due to the vast catalogs of rare records worldwide, but in reality it is quite narrow with a focus on funk, soul, jazz and psychedelic music from the 60s and 70s. Even so, the music and the records are endless. Everything from funk 45s to Latin and African funk to psych to Brazilian and more. I do appreciate some newer music, but I mostly focus on the old stuff.

You just presented a brazilian mix on the soulstrut board. How long have you been collecting brazilian music?

I’ve been interested Brazilian records for about 5 years now, but only seriously collecting for the past 2 or 3 years. It all began when I just happened to pick up a Jorge Ben Greatest Hits LP from a nearby record store’s dollar bin. At the time I was mostly a funk, soul and psych collector so the introduction of regional samba and bossa nova sounds to what I was already into really appealed to my tastes. My obsession really blew up when I went to Brazil. I came back with a ton of records and haven’t stopped. This mix is the first in what will be a very long series of Brazilian mixes ranging from mellow to dancefloor oriented samba, bossa nova, MPB, soul, funk, psych, folk and jazz.

So you went to Brazil to dig for records?

I went to Brazil for the first time this past November by myself on a sort of pilgrimage. Music is where my love for Brazil originated, but I have since become fascinated by all aspects of the culture including the language, music and dance. I spent one week in Sao Paulo and one week in Rio de Janeiro and plan to return soon. I spent a solid portion of that trip digging for records, but also spent time exploring the areas and beaches, meeting interesting people at cafes, bars and clubs, drinking way too many caipirinhas and poorly attempting to samba dance with all the beautiful women.

My favorite and most sketchy digging story happened in Sao Paulo. At the time, my Portuguese was very poor, but I managed to contact a record dealer to look at his private collection. His English was as bad as my Portuguese, but we managed to arrange a meeting at my hotel where he would then drive me to his house. He, like everyone else in Sao Paulo, drove like a maniac and I was clutching my seatbelt for dear life. We drove quite far out of the city into the more disturbing areas of the surrounding favelas. After about 30 minutes I started to panic because I thought there was a good chance this was an old fashioned tourist kidnapping. I had been warned heavily to be careful, but had not even considered the danger because I was blinded by the prospect of records. 45 minutes into the drive we arrive at his house. The streets are crowded with kids and everyone is just staring at me as I get out of the car because of my extremely white skin and obvious tourist look. All was okay in the end, he was a very nice man who lived with his mother and had a room full of thousands of records. I spent a few hours there picking through everything and walked away with some serious heat. He then nicely drove me back to my hotel.

Why would you say brazilian music is so appealing even for people that do not understand the portuguese language?

It is definitely an acquired taste, but it is appealing to so many people because of the fusion of so many styles. Brazil is such a diverse country with so many influences and that shows in the music. Also, the language itself is beautiful even if you don’t understand it. I was joking with a friend recently that the actual lyrics could be something simple like Happy Birthday, but we’d never know or care because it would still sound amazing.

You are a very active member of the soulstrut comunity. What's your best soulstrut story? A trade, a friend, something you read on the board...

The Soulstrut community has been an invaluable resource to my DJing and collecting, but the best part about it is the real world encounters. There’s not a place in the world without a Strutter willing to host or show you around. Even in Brazil I had a Strutter take me to all the record stores and flea markets. I’ve been an active member and contributor since the beginning so it would be hard to settle on one best story, but I’ll try with one that sticks out in my mind. I live in a big house with a pool and a hot tub in the backyard so I host a lot of summer parties. One time I had a few Strutters over because a prominent New York member was in town. We all shared the turntables in the backyard while drinking heavily all day. Needless to say, hilarity ensued. The NY Strutter disappeared at one point, but we found him 4 hours later asleep in his running car in the driveway. You had to be there to appreciate how funny it really was.

Do you think there's still enough vinyl out there for people who are just now starting to collect?

There will always be enough vinyl out there to start collecting, but people will either have to be extremely more resourceful or willing to pay market value if they want to build a solid collection. The days of finding well known rarities in local shops or even thrift stores for a dollar are fading rapidly. I’ve been fortunate to become successful enough in my professional life that I can afford to pay market value for my records. The only time I get out there and dig anymore is when I’m travelling. I did put in my years of daily thrift store and early market flea market/garage sale digging, but I’m over that for the most part. I do think that is a necessary step to becoming a serious record collector because it really makes you appreciate what you’re digging for.

Give us a top 5 of your Brazilian heat.

I have a hard time with Top 5 lists because I hate to leave anything out, but I’ll give it a shot. First of all, I’d say almost all of Jorge Ben’s records are at the top. I treat his records to Brazilian music as I treat James Brown’s records to funk music… start there and move on… until you’re buying an original Arthur Verocai LP like me.

Top 5 of the rare flavor

Paulo Bagunca - e a Tropa Maldita
Arthur Verocai – S/T
Vox Populi – S/T
Luiz Eca y La Familia Sagrada – La Nueva Onda de Brasil
Cravo e Canela – Preco de Cada Um

Top 5 of the more common flavor

Novos Baianos – Acabou Chorare
Joyce – Feminina
Antonio Carlos e Jocafi – Mudei de Idea
Gal Costa – 1st S/T
Os Caculas - S/T


The Brasil Meu Amor mix series dedicated to my passion for all things Brazilian will cover all styles including bossa nova, samba, MPB, soul, funk, psych, folk and jazz. The first mix leans more towards the psych and folk realm. Over 70 minutes of the best and rarest Brazilian records from the 60s and 70s. All original pressings of course... yes, including the Verocai! Stay tuned for more deep mixes in this series soon.

Brasil meu Amor Mix

África Eléctrica # 31

Modo livre para esta emissão, com dois sets diferentes a concentrarem atenção sobre a produção mais ritmada da África ocidental. Ritmos africanos durante duas horas perfeitinhas para o iPod!





África Eléctrica # 31 1ª hora

África Eléctrica # 31 2ª hora

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Madlib na Radio Nova

Madlib parou na Radio Nova antes de uma apresentação ao vivo na capital francesa. Realizou um pequeno set de meia hora que agora está disponível no site da Stones Throw. Obrigatório, claro.

Madlib on radio Nova

Madlib on Hit da Breakz 1

Madlib no Hit da Breakz 2

Tony Allen para remisturar

Tony Allen, lendário baterista de Fela Kuti e co-inventor do afrobeat, tem novo álbum nas ruas. Tem por título «Secret Agent» e é um genuíno exercício de regresso ao mais tradicional som do afrobeat, facto digno de nota num artista que em anos recentes navegou muitas vezes por águas mais dadas à fusão (nomeadamente nos projectos que realizou na francesa Comet e na sua aliança a Damon Albarn nos The Good, The Bad & The Queen). Pois bem, feita esta breve introdução fica o alerta para um projecto de remisturas da faixa título do novo álbum de Tony Allen. A informação está toda no blog oficial da iniciativa - Tony Allen Remix Contest. É possível ter acesso a samples dos diversos instrumentos que compõem a faixa e depois é deixar a imaginação funcionar. Gostava de ver o que é que DJ Ride ou os Cacique 97 poderiam fazer com isto. Façam favor meus senhores...

Psychedelic Now Again

No site da empresa de design que fez esta capa (e que tem trabalhado muito para a Now Again) revela-se o novo projecto de Egon - uma compilação de pérolas psicadélicas que parece funcionar como um primer para quem não tem bolsos fundos e não consegue arranjar todos os originais. A compilação ainda não foi sequer anunciada no site da Now Again, mas através dos designers percebemos que irá incluir faixas de gente como Ofege, Damon ou Dr. Hooker. E eu fico ansiosamente à espera desta edição!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Funky Benim

Na década de todas as revoluções, um pequeno país como o Benin – até 1975 conhecido como Dahomey – celebrava a sua identidade com música carregada de groove que encontrou um lugar no presente graças ao esforço de etiquetas como a Analog Africa.

Independente do regime colonialista francês desde o início dos anos 60, Dahomey conheceu década e meia de turbulência étnica até à subida ao poder do marxista Mathieu Kérékou, responsável pela mudança do nome do país para República Popular do Benin, em 1975. Embora a transição para uma economia de mercado só tenha acontecido em finais dos anos 80, tal facto não impediu este país de gerar uma rica produção musical orientada com os mais enérgicos postulados do groove. A República Popular do Benin era comunista, mas também era funky. E a mais recente prova de tão invulgar situação pode encontrar-se na mais recente compilação editada pela fundamental Analog Africa de Samy Ben Redjeb: «Legends Of Benin», apresentada como uma “colecção de obras-primas super raras e altamente dançáveis gravadas entre 1969 e 1981 por quatro lendários compositores do Benin: Antoine Dougbé, El Rego, Honoré Avolonto e Gnonnas Pedro.
O alemão Ben Redjeb - a par do britânico Miles Cleret, homem do leme da Soundway – fez da Analog Africa uma etiqueta obrigatória para todos os que tenham o mais leve interesse por essa outra África que a indústria da World Music não revelou. De certa forma, pode considerar-se que a etiqueta “world” serve para mostrar como uma produção local olha para os mercados exteriores, mas a música contida em «Legends of Benin» (como nas outras edições da Analog Africa) nasce precisamente do movimento contrário, com músicos locais a interpretarem para consumo interno as influências exteriores. «African Scream Contest» (compilação de vários artistas do Benin e do Togo) e a antologia dedicada à Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou (também alvo de uma das preciosas edições da Soundway) são dois incríveis documentos, obsessivamente anotados pelo próprio Samy que assim coroa as suas expedições de descoberta. Estes álbuns não nascem de uma pesquisa confortável num qualquer catálogo de licenciamentos, mas sim de atribuladas viagens que rendem incríveis histórias relatadas nos booklets destes profusamente ilustrados lançamentos. Como Frank Gossner, do blog Voodoo Funk (de que já falámos por aqui), Ben também adopta uma postura quase arqueológica na procura das originais rodelas de vinil com que depois vai refazendo a imagem deste passado até agora desconhecido fora das fronteiras do Benin. O trabalho é tão minucioso como o de um arqueólogo que lentamente vai removendo camadas de poeira depositada pelo tempo até revelar mais um mosaico de uma civilização remota.
Há outro dado importante para se compreender a acção destas editoras e muito em concreto da Analog Africa: todo este trabalho é fruto de uma paixão que poderia até argumentar-se chegar perto da obsessão, característica comum dos coleccionadores mais dedicados. No blog da Analog Africa (sim, blog, porque não há dinheiro para mais: http://analogafrica.blogspot.com/) Samy dirige-se directamente aos seus consumidores para explicar atrasos na edição de vinil de «Vodoun Effect», a antolodia da Orchestre Poly-Rythmo, e deixar claro que é rigoroso na escolha da fábrica (masters com pobre qualidade sonora obrigaram a atrasos e a mudança de fornecedor) e que para poupar 20 cêntimos dobra ele próprio os posters que acompanharão essa desejada edição. Esta atitude “hands on” é fruto de um trabalho secreto, ainda distante da prática mais “profissional” das grandes editoras, mas que ainda assim garante resultados que não se poderiam alcançar de outra forma.
A música contida em «Legends of Benin» é uma vibrante mistura informada pelo funk, pelo jazz e pelo rock que chegava do mundo até Porto-Novo (a capital foi baptizada pelos portugueses envolvidos no comércio de escravos neste porto até 1885!) e Cotonou (a mais populosa cidade do Benin) e depois transformada por um caldo de tradições, sonoridades e técnicas declaradamente singulares e locais. Esta música não poderia ter surgido em mais lugar algum do mundo. Depois de décadas esquecida sob as areias do tempo (e a imagem pode ser entendida até de forma literal – o vinil tem pouco valor numa África em que até o clima parece funcionar contra esse suporte) volta a fazer-se ouvir, agora perante uma plateia mais global do que nunca.

África Eléctrica # 30

A propósito do mais recente lançamento da Analog Africa, «Legends of Benim», dedica-se esta emissão à exploração do catálogo da alemã Analog Africa. Além da já referida compilação passa-se igualmente por «The Vodoun Effect», antologia dedicada à Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou, pelo fundamental «African Scream Contest» e também pelo lançamento dedicado aos Green Arrows. São duas horas da melhor África analógica!

África Eléctrica # 30 - 1ª hora

África Eléctrica # 30 - 2ª hora

sábado, 6 de junho de 2009

De La Soul: 20 anos de 3 Feet High...

Tenho cinco versões de 3 Feet High and Rising: uma versão digital que carrego para todo o lado no iPod e uma versão analógica que costumava carregar para todo o lado no walkman (recentemente resisti ao impulso de comprar numa feira de velharias um walkman Sony exactamente ao modelo que tive durante tantos anos...); tenho igualmente uma versão em CD e duas em vinil - a prensagem europeia original que adquiri na Contraverso em 1989 (na verdade foi um presente, mas fui eu que o escolhi) e uma versão mais recente que transpõe o alinhamento para um duplo vinil para melhor qualidade de som. É um disco extraordinário, este 3 Feet High... Psicadélico e inovador, transportou a idade do sampling para um novo patamar e abriu uma ética para o olhar sobre o passado. Da música negra, mas não só.

Há uns anos, escrevi as seguintes linhas como parte de um texto mais alargado que surgiu a propósito de «The Grind Date»:

Apesar dos anos, apesar das suas incríveis capacidades em cima de um palco e apesar de álbuns fantásticos como “De La Soul is Dead” (91), “Buhloone Mindstate” (93) ou “Stakes is High” (96), os De La Soul ainda continuam a ser vistos como os tipos que fizeram “3 Feet High and Rising” (89), sendo continuamente perseguidos pela longa sombra lançada por esse primeiro registo. No fundo, os De La Soul – provavelmente o mais Hip Hop de todos os grupos de Hip Hop – conseguiram inadvertidamente a proeza de assinarem o único álbum de rap que toda a gente que odeia rap adora. “3 Feet High…” é de facto uma obra-prima, mas não pelas razões que normalmente lhe são apontadas (o humor, as rimas technicolor, a aura hippie, os instrumentais dançáveis…). Maseo, Dave e Pos ergueram a sua discografia em cima de um manual de sampling, um verdadeiro turbilhão que resumia a história da música negra em 52 minutos e 44 segundos de retalhos colados com a habilidade de quem tinha passado os dez anos anteriores agachado ao lado da cabine do DJ, a estudar com afinco obsessivo as etiquetas e as capas de todos os discos responsáveis por moverem a multidão. Prince Paul definiu o dogma e o dogma reinou supremo nos dez anos seguintes até que uns jovens de Virgínia Beach começaram a curvar toda uma nação a outro groove. Mas essa é outra história.


Estamos a chegar aos 20 anos de 3 Feet High. É tempo de balanços. A Rolling Stone foi falar com os De la Soul a propósito de tão redondo marco. A leitura é obrigatória e deve começar aqui:

It's been 20 years since De La Soul introduced a funkier, sunnier brand of hip-hop with the genre-broadening classic 3 Feet High and Rising, an album that went on to inspire legions of innovative followers from Digable Planets and Mos Def to OutKast and Kanye West. Mase, Posdnous and Trugoy looked back at 3 Feet and shared some of their plans to commemorate the LP's anniversary in an exclusive track-by-track interview with Rolling Stone.

"We always wanted to be one of those acts that could be considered part of a legendary legacy," says Trugoy, a.k.a. David Jude Jolicoeur. "I remember back in the day, saying it's so cool that the Beatles, Stevie Wonder, David Bowie are still played. That's what we wanted hip-hop to be, one of those genres that doesn't fade out when whatever's new is hot."

With 3 Feet High and Rising, the trio teamed with producer Prince Paul to create a template for free-thinking, creative hip-hop that wasn't afraid to challenge the still-budding genre's norms. "We appreciated what BDP, Dougie, LL and so many others were doing, but we had something else to say, and we knew there were people out there like us that wanted to hear something else," says Trugoy. "We felt like, if we wanted to look the way we looked and touch on topics we did, we shouldn't be fearful of doing it just because it was the boasting and the bragging and the gold chain era. We always felt that individualism and creativity and expressing it was most important."

To mark 3 Feet's two-decade anniversary, De La are putting together a tour, a book and a album including remasters and remixes of the original tracks, along with some "re-interpretations": In 1989, when the LP was released, samples were a new frontier and many on the album were used without clearances, which would prevent the tracks from being re-released. But De La has an electrifying idea about how they can release those songs.


A parte sublinhada a negro deve interessar a todos os fãs de 3 Feet High e dos próprios De la Soul.

Texto inteiro, aqui. Boa leitura!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Mos Def & Stones Throw

A união de um grande MC a uma grande editora é sempre motivo de interesse. Muito mais quando o MC responde pelo nome de Mos Def e a editora é a irrequieta Stones Throw. O novo álbum tem por título «The Ecstatic» e é um exercício curioso: Mos escolheu uma série de instrumentais dispersos por vários lançamentos da Stones e acrescentou-lhes rimas. Ora, este exercício pode indicar uma de duas coisas:

a) Mos Def é fã dos lançamentos da editora de Stones Throw, tão fã que quis que o seu novo álbum se fizesse apenas de beats já anteriormente lançados com essa etiqueta.

b) Mos Def estava com pressa de fazer um disco e nem se deu ao trabalho de estudar as beat tapes dos produtores da Stones...

Seja como for, esta ecológica atitude de reciclagem é original e poderá até trazer alguma surpresa. Saberemos em breve.

A lista:

Supermagic - Mos Def over Oh No's “Heavy” from the album Dr. No's Oxperiment.
Auditorium - Mos Def & Slick Rick over Madlib's “Movie Finale” from the album Beat Konducta in India.
Pistola - Produced by Oh No, a track made from Billy Wooten's “In The Rain” from the album The Funky 16 Corners. Madlib also flipped this track in his epic Billy Wooten remix, “6 Variations of In The Rain”
Revelations - Produced by Madlib. Previously released as an interlude on the album Madvillainy 2: The Madlib Remix
Roses - Produced by and featuring Georgia Anne Muldrow
History - Produced by J Dilla, from a previously-unreleased beat known as “History”
Wahid & Pretty Dancer - Produced by Madlib

Bill Withers - O Filme!!!

Maior cantor de todo o sempre? Certamente Bill Withers merece pelo menos que se coloque essa pergunta. Cantor enorme, homem cuja voz carrega a igreja, a tradição do sul, o country e a soul, uma humanidade profunda, um saber que não se aprende. Eu não me canso de ouvir «Still Bill» e «Just as I Am», duas obras primas maiores que o colocam entre os maiores dos maiores no terreno da música popular da década de 70. Ao lado de Marvin, Stevie, Otis e de todos os outros gigantes. Alguém quis fazer um filme sobre ele. A info está aqui. No site oficial há também um teaser que nos deixa a chorar por mais. Enquanto não chega, deliciem-se...







Arrepiados?...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Bring your own Boombox: 12 de Junho

No próximo dia 12 de Junho, o Adamastor, em Lisboa (ao lado da Bica), vai receber mais um evento com chancela Red Bull Music Academy. Desta vez trata-se do Pirate Popular Soundclash em que eu próprio vou estar envolvido. Sem querer desvendar muito sobre o evento, fica no entanto aqui uma convocatória: a todos os que tenham em casa Boomboxes, Ghetto Blasters ou Tijolos, como também são apelidados localmente, façam o favor de lhes limpar o pó, apetrechar de baterias e dirigirem-se ao Adamastor. Dessa forma, cada indíviduo deixa de ser simplesmente receptor e passará a ser também emissor das vibrações "piratas" que hão-de emanar de um ponto próximo. A convocatória está feita. Espero-vos lá!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Save The Children

Hoje é dia da criança. E, como dizia Marvin, é preciso salvar as crianças. A soul sempre lhes dedicou muita atenção e até consagrou algumas crianças - Michael Jackson a cantar "Ain't no sunsghine"... - dando-lhes um espaço que raramente conseguiram noutros géneros musicais. E porque é dia da criança, ficam aqui algumas sugestões para a banda sonora do vosso iPod neste dia de sol:

Home Schooled - the ABCs of Kid Soul (Numero Group)

Marvin Gaye - What's Going on (Motown)

Bobby Womack - Save The Children (Solar)

The Intruders - Save The Children (Gamble)

Vários - Save The Children (Tamla)

Foster Sylvers - Foster Sylvers (Pride)

Jackson 5 - Greatest Hits (Motown)

Little Stevie Wonder - Recorded Live The 12 Year Old Genius (Motown)