domingo, 20 de dezembro de 2009

www.33-45.org

E a partir deste momento, o One For The Treble, Two For The Bass passa à história. A minha "nova casa" é o 33-45. A mesma atitude, a mesma direcção nos posts (e um par de direcções novas, se a bússula não me falhar) e um dado novo: fórum para recuperar a velha comunidade que orbitava no fórum do HdB e para a alargar, se possível. Por isso, por favor, inscrevam-se e sejam bem vindos. Here we go again...!

sábado, 19 de dezembro de 2009

33-45: em breve!


Praticamente um ano depois de ter começado, o One For The Treble vai sofrer uma transformação profunda: sai da plataforma do blogger, passa a ter novo grafismo e - muito importante! - domínio próprio e um novo nome, mais simples de dizer e de ser compreendido. A filosofia, essa continuará a ser a mesma: «Todo o funk que há no jazz, todo o rock que há no disco, toda a soul que há na folk, todo o passado que há no futuro. Discos, ideias, textos.» Nem mais. E, a pedido de incontáveis famílias, vai regressar o fórum associado ao blog, tal como acontecia nos tempos do HdB.
Esta operação de transformação só acontece graças à inestimável colaboração do Edgar Matos, aka motown junkie, que a partir de Elvas está a conduzir toda a logística de mudança e transformação do One for The Treble, Two For The Bass em 33-45. Link aqui muito em breve. Daqui a algumas semanas, deitarei esta página abaixo. Os conteúdos, claro, passam a estar disponíveis na nova página.
Até já!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Capa do ano? Strong Arm Steady


Há muitas razões para que a minha colecção da Stones Throw não páre de crescer e as mais importantes são, obviamente, musicais. Mas a atenção da label de PB Wolf aos detalhes é insuperável: cada projecto é tratado como uma dignidade extrema e o amor pela edição, pela música, pela possibilidade de dar dimensão física a toda aquela arte é espantoso. Prova mais recente, a capa de "In Search of Stoney Jackson", dos Strong Arm Steady.

In Search of Stoney Jackson is produced entirely by Madlib, longtime friend of Phil Da Agony and extended Strong Arm Steady family. The album’s conception owes a great deal to World Famous Beat Junkie, J.Rocc, who provided the trio with close to 200 of the Madlib the Beat Konducta’s tracks to choose from. Strong Arm Steady had previously rapped over Madlib productions on the Madlib and Talib Kweli Liberation album, but this full-length marks a long-desired collaboration between the four. It’s a hip-hop jam session, with the group acting as the rhythm section for an all-star cast of guest vocalists such as Planet Asia, Guilty Simpson, Evidence, Chase Infinite, and Phonte of Little Brother.


Shook # 7


Novo número da Shook já nas bancas. Leiam o que eles têm a dizer (gosto especialmente da expressão "ciência do ritmo" - vou adoptar!):

With our FUNK FACTORY special covering some of the baddest bands on the planet (Dap-Kings, Breakestra, Whitefield Brothers, Lefties Soul Connection, Cookin’ On 3 Burners & Malcolm Catto of the Heliocentrics) and our focus on PLANET MU, whether we’re cold lampin’ with the original funki dred JAZZIE B or sweating to the tropical rhythms of GWO KA and TUMBELE in Martinique and Guadeloupe, SHOOK #07 goes deep in the science of rhythm. The launch of HOMEGROWN, the first major exhibition of UK hip-hop, is our excuse to go back in time with London Posse, Demon Boyz and many more. We get the DATA REDUCTION from ZOMBY and gOnj@$ufi. MAX ROMEO tells us how he almost burned down the offices of Island Records, HUDSON MOHAWKE talks about making tracks for Rihanna, while Stefan Lakatos remembers learning to play the trimba from MOONDOG. For all you jazz heads, CARL CRAIG, MARCUS BELGRAVE and WENDELL HARRISON give us the rub on the resurrected TRIBE RECORDS project; we get a dose of Ancestral Soul from BODDHI SATTVA; Guilty Simpson, Black Milk, Dilated Peoples, Planet Asia and more salute HEX MURDA; we smoke Cohibas in Cuba with GILLES PETERSON and blaze blunts in LA with GASLAMP KILLER, SAMIYAM, HOUSESHOES & RHETTMATIC. Plus TERENCE BLANCHARD explains all about his difficult choices post-Katrina. Elsewhere, we feature FELA! THE MUSICAL, we surprise NNEKA, find out all about the CANDY MACHINE, travel the world with DREPH, celebrate the release of STILL BILL and raise a toast to 30 years of VAGUE. So shut yourself away this Christmas with a copy of SHOOK and a bottle of brandy, and be a soul adventurer, travelling to places and spaces far and wide in the musical omniverse.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

The Minimal Wave Tapes


Apetece recuperar aquele famoso anúncio do Pingo Doce e dizer que esta boa notícia vem do "sítio do costume".

The Minimal Wave Tapes
CD/2LP/Digital
Release Date: Jan 26, 2010

Minimal Wave: both a genre of underground DIY electronic music from North America and Europe in the late 1970s and 80s, and the name of the label devoted to unearthing these recordings. The Minimal Wave Tapes is the first official anthology (on CD, LP and digital) of Minimal Wave music from this label. Most of the songs were originally released on limited edition cassettes or vinyl by the artists themselves, and only a handful of people knew about them. They’ve been remastered from their analog source tapes and compiled here by Minimal Wave's Veronica Vasicka and Stones Throw's Peanut Butter Wolf.

The Minimal Wave musical genre was hallmarked by the use of the analog synths and drum machines manufactured in the 70s and 80s, and characterized by simple music structures made by musicians working in the early D.I.Y. asthetic: recording on tape in their home studios, creating their own album artwork, and often collaborating via postage mail. The fanzine CLEM (Contact List Of Electronic Musicians) was very influential in creating a worldwide community for this sort of music, before digital technology and the internet came into play.

Minimal Wave the label was founded in New York City in 2005 by Veronika Vasicka, who focused the label solely on obscure Minimal Wave recordings, remastering and releasing them on limited vinyl and digital.

The Minimal Waves Tapes fits neatly into Stones Throw Records' own tradition of compiling or reissuing the independent music of the past which influences the independent music we make today - 60s funk (The Funky 16 Corners), early 80s hip-hop (The Third Unheard) and West Coast Electro/Rap (Arabian Prince's Innovative Life) to name a few.


Tracklisting

1. “Way Out Of Living” Linear Movement
2. “Flying Turns” Crash Course In Science
3. “Radiance” Oppenheimer Analysis
4. “Who's Really Listening” Mark Lane
5. “Tempusfugit” Tara Cross
6. “Blurred” Turquoise Days
7. “Mickey, Please...” Bene Gesserit
8. “Moscú Está Helado” Esplendor Geometrico
9. “Reassurance Ritual” Das Ding
10. “Just Because” Martin Dupont
11. “Game & Performance” Deux
12. “Things I Was Due To Forget” Somnambulist
13. “My Time” Ohama
14. “The Cabinet” Das Kabinette


PB Wolf sobre a Minimal Wave

Minimal Wave Podcast

Low End Theory Podcast # 10


Décimo épisódio na história interminável de devoção aos sub-graves mais cavernosos de Los Angeles. Protagonistas: Dj Nobody e Free The Robots.

Low End Theory Podcast # 10

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

The Breaks: regresso à fonte


No passado sábado, o final de dia no café do teatro Maria Matos foi passado a conversar com a Isilda Sanches e o Zé Moura sobre muitas coisas, incluindo o clássico 3 Feet High and Rising dos De La Soul. Num momento em que se discute o presente - e eventual futuro - do hip hop, a audição destes clássicos pode refrescar as ideias. Foi o que me aconteceu com a estreia dos De La Soul: a caminho do Superdisco no sábado, não pude deixar de pensar como esse álbum é um autêntico catálogo de breaks, um álbum que sendo progressivo à época (e ainda hoje...) conseguia não perder de vista a fonte da cultura e os alicerces estéticos que permitiram erguer o edificio que hoje se conhece. Nem sempre isso acontece: quantos serão os produtores hoje que desconhecem por completo a cartilha básica dos breaks? Quantos são os produtores hoje para quem os drum kits de Dilla ou Premier são a principal fonte? Um bom sítio para se começar a entender a dimensão desta cultura de breaks pode ser um thread recente no universo de informação que é o Soulstrut: Greatest Drum Braek of All Time (assim mesmo, com as letras da palavra "break" ligeiramente reposicionadas, como acontece com frequência nesse fórum onde "rare" se escreve "raer") é leitura obrigatória para todos - para refrescar a memória ou até para revelar uma série de novos e grandes breaks. Quem sabe alguns beatmakers não tiram dali algumas ideias?...
A (des)propósito, lembrei-me de um texto de quase 10 anos, publicado em tempos na Op. Marcou presença logo nos primeiros tempos do HdB e volta a fazer sentido aqui:

BOOM BAP: GIVE THE DRUMMER SOME

A bateria é o mais político de todos os instrumentos. Em primeiro lugar, porque retém uma ancestralidade que mais nenhum instrumento possui, afirmando-se, por isso mesmo, como uma marca de identidade. Porque, enfim, fala a única linguagem realmente universal: os padrões rítmicos repetitivos, mais do que os melódicos, têm a idade do Homem. Antes das primeiras palavras terem ganho forma, foi no acto primitivo de chocar pedra com pedra, madeira com pedra, madeira com madeira, ou madeira com pele que vibraram os primeiros sentidos profundos de uma linguagem sónica que ainda hoje perdura. Não deixa por isso de ser significativo que, impresso bem fundo no código genérico da nova realidade digital, esteja o pulsar dos tambores, que de África para o Novo Mundo se alargou, por via das modernas tipologias musicais, a um Velho Mundo que não entendeu os tambores quando foi colonizador, mas que a eles se rendeu quando foi cultural e musicalmente colonizado.

O que há afinal num break de bateria? O que se houve no "boom-bap" de um break suado que quando repetido num loop nos transporta para uma outra dimensão? História, poderíamos dizer. Ancestralidade. O som primevo das margens do Nilo... num disco de DJ Shadow. Perante esta perspectiva, o sampler funciona como uma espécie de entrada para uma dimensão alternativa, um portal cósmico. Um artefacto mágico que, quando bem usado, retém a identidade do som de bateria original, ainda que, ao mesmo tempo, permita a transfiguração desse padrão primeiro até ao infinito. O B-BOOM-BOOM-BAP/B-B-BOOM-BAP de "Zig" Modeliste (o baterista do mais zen de todos os grupos funk, os Meters) pode ser reconfigurado num B-B-BAP-BOOM-BOOM/BOOM-B-B-B-BAP, quando se transformam os sons acústicos em bem disciplinados zeros e uns dentro do sampler, e se cortam, como se tivéssemos à mão uma tesoura, os sons individuais do kit de bateria, para se reconstituir um novo mapa de pulsões, a partir de coordenadas antigas.

Provavelmente, o mais emblemático de todos os breaks de bateria foi assinado por Clyde Stubblefield, quando, enquanto parte da secção rítmica de James Brown, assinou momentos históricos em temas como "Cold Sweat" ou, principalmente, Funky Drummer. Concentrando-se no bombo, na tarola e no hi-hat, Clyde responde ao apelo de James Brown ("let’s give the drummer some...") e, num longuíssimo break (que não é um solo...), inventa a música moderna, soando como se de um metrónomo humano se tratasse. O sofisticadíssimo desenho rítmico na tarola e a segurança do seu trabalho de pés no bombo e no hi-hat pode ser encontrado em centenas de discos de hip hop ou, acelerado, como parte da revolução drum n’ bass.
"Funky Drummer" é um disco de 1970. À época, James Brown usava os seus concertos ao vivo como o combustível da sua inspiração. Talvez para poupar dinheiro nas incontáveis horas de estúdio que uma banda pode queimar até estar "no ponto" para gravar, o Padrinho da Soul costumava terminar um espectáculo e levar imediatamente a sua banda para as imediações do gravador mais próximo. Nesses dias, a América profunda atravessava uma revolução da consciência. O Civil Rights Movement e as vozes aparentemente opostas de gente como Martin Luther King ou Malcolm X ainda ecoavam nas paredes das grandes cidades. James Brown era um músico no centro do turbilhão. Uma verdadeira estrela com uma visibilidade que interessava a todos os campos desse conturbado mapa político. Na segurança extrema dos seus músicos, o homem de "Sex Machine" reflectia a sua própria disciplina: uma disciplina de auto-afirmação, a única via que, segundo a sua opinião, poderia conduzir à elevação do Homem Negro.

E Stubblefield, naqueles segundos preciosos de "Funky Drummer", quando toda a banda se remete ao silêncio e as peles tensas da sua bateria fazem vibrar o ar no estúdio, envia a todo o mundo uma mensagem: "Nós estamos aqui há muito tempo. Já construímos grandes civilizações. Durante 500 anos fomos oprimidos, violentados... Mas agora chegou, de novo, a nossa hora. Chega!" E na precisão sincopada daquele break lê-se a História de uma diáspora forçada, das terras quentes de um grande continente negro onde o tambor sempre transportou ideias até às margens de um Mundo Novo que durante séculos não soube reconhecer dignidade num povo. Um povo que nunca abandonou os seus
tambores e que os usou ainda nas plantações para codificar ideias e reforçar laços de identidade. Que essas ideias sejam, décadas mais tarde, filtradas pelo processador de um sampler nas mãos de um jovem negro ou branco, na América ou na Europa, só vem reivindicar, de novo, a universalidade dessa vibração primordial. "A bateria," dizia a canção, "é o instrumento mais importante."*

* "The drum is the most important instrument..." US 3 in "Different Rhythms, Different People".


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Superdisco # 4: Maria Matos, sábado 12 de Dezembro - 18h30


Amanhã pelas 18h30 o MMCafé do teatro Maria Matos recebe a quarta edição da iniciativa Superdisco para a qual fui convidado. Pensei originalmente falar sobre «Astro Black» de Sun Ra, mas ao perceber melhor a direcção destas conversas decidi então eleger 3 Feet High and Rising para tema central da conversa. Por várias razões, as mais importantes de todas puramente musicais. Mas algumas de ordem simbólica: recebi este álbum de presente em Maio de 89 (estava na montra da Contraverso e fui eu que o escolhi) e um mês depois começava a minha primeira aventura jornalística a tempo inteiro com o ingresso na redacção d'A Capital onde tinha começado a colaborar em Fevereiro (com um texto sobre o impacto da cena Acid House em Inglaterra). Será portanto 3 Feet High and Rising o álbum a dar o mote para a conversa de amanhã. Espero encontrar-vos por lá...

Há uns anos escrevi este texto para a Op:

DE LA SOUL: NOW & THEN
“AOI: Bionix”/”3 Feet High & Rising”
(Tommy Boy)


O que é o hip hop? Uma rima e uma batida; uma esquina na rua que um b-boy aproveita para enquadrar movimentos que desafiam as leis da física; um DJ em “profunda concentração” sobre dois gira-discos; um produtor com “dedos empoeirados” de tanto percorrer a caixa das pechinchas numa loja de vinil de segunda mão; um writer que “bombardeia” uma parede com explosões de cor; um microfone, um sampler, um gira-discos, um pedaço de papelão no passeio, uma rodela de vinil, uma lata de spray... E tantas outras coisas. Os De La Soul sabem. Vocês sabem. Todos sabem. Mas nem todos admitem.

Por exemplo, porque é que o recentemente reeditado “3 Feet High & Rising” é tão profundamente amado e discos mais ou menos contemporâneos como “The Low End Theory” dos A Tribe Called Quest, “Stunts, Blunts and Hip Hop” de Diamond D, “Don’t Sweat The Technique” de Eric B & Rakim, “No More Mr. Niceguy” dos Gang Starr ou “Breaking Atoms” dos Main Source raramente conseguem a mais pequena menção nos media? A verdade é muito simples: as razões que justificam a generosa atenção dada a “3 Feet High & Rising” estão para lá do hip hop. Que fique muito claro: não há aqui a mínima intenção de reescrever a história. O primeiro álbum dos De La é uma obra prima. Os beats de Prince Paul em suspensão milimétrica sobre a história da música negra, as rimas technicolor de Posdnuous, Trugoy e Maseo, a atmosfera de “Quiz Show”, os loops imaginativos, enfim, tudo mesmo no disco é perfeito. E pop. Acessível, transparente, cantarolável e dançável. Por isso é que esse disco surge em todas as listas de Melhores de Sempre. No fundo, “3 Feet High...” está para o hip hop, como “What’s Going On” para a soul. Ambos são discos perfeitos, com um inigualável equilíbrio entre conteúdo e forma. Mas ambos ultrapassaram as fronteiras dos géneros que os viram nascer para se colocarem numa mais alargada divisão a que, à falta de melhor termo, ainda chamamos “Pop”.

Desde então, e tendo compreendido isso mesmo, a carreira dos De La Soul tem-se pautado por um único impulso: o do regresso às bases. Como se do alto da Penthouse que passaram a habitar, Mase, Posdnuous e Dave ansiassem pelo regresso à tal esquina imaginária adornada, no passeio, com o tal cartão que os B-Boys usam para desenhar os movimentos fluídos com que traduzem no espaço os grooves dilatados do hip hop.

O novo álbum, “AOI: Bionix” já encontra os De La Soul perto do piso térreo do edifício que define geograficamente a tal esquina. Beats inoxidáveis, traçados digitalmente na realidade hip hop actual, bleeps sintéticos, traços de gospel e blues, soul do novo milénio e frases que definem uma vontade: “if i had to join a gang, i think i’d join Gang Starr”. Os De La Soul só querem regressar à rua. E fazem-no com inigualável classe.




segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Podcast de J Rocc na Stones Throw


Novo podcast de J Rocc na Stones Throw a propósito da iniciativa Secondhand Sureshots.

When the guys at Dublab & Hit+Run hit up every dollar record bin in the Los Angeles area looking for album covers to salvage and repaint for their Secondhand Sureshots Deluxe Superset, they were left with one problem: what to do with the hundreds of discarded, sleeveless records that no one wanted?

Solution: Give them to J.Rocc.

This is an extension of the Secondhand Sureshots project, a J.Rocc mixtape made up of as many of the reject vinyl as he could manage. Given the working material, the results are impressive. Everyone who has ever flipped through a dollar bin might think twice the next time they pass up those multiple copies of Loggins & Messina, Hotel California, Linda Ronstadt in roller skates, and all those anonymous classical records after hearing what can be done with them.


J.Rocc - Secondhand Sureshots, The Podcast

sábado, 5 de dezembro de 2009

Krautrock: livro da Black Dog Publishing

Da mesma editora que nos deu Old Rare New (mais abaixo recuperação de texto publicado na Parq), a Black Dog Publishing, chega-nos agora Krautrock: Cosmic Rock and It's Legacy, fantástico livro que inclui textos por autoridades sólidas na matéria (como, por exemplo, David Keenan ou David Stubbs, da revista The Wire) e que oferece uma renovada perspectiva sobre a revolução rock que atirou a Alemanha da cortina de ferro para o futuro. O livro inclui uma introdução de David Stubbs, ensaios de Ken Hollings («Background Radiation»), Erik Davies («Kosmiche») e Michel Faber («Im Gluck») e ainda perfis em cerca de três dezenas de bandas - dos Agitation Free a Witthuser & Westrupp passando pelos incontornáveis Amon Duul e Amon Duul II, Ash Ra Tempel, Can, Embryo, Harmonia ou Popol Vuh. Há ainda capítulos dedicados às mais importantes editoras discográficas (Bacilus, Brain, Ohr...) e aos mais celebrados produtores (Dieter Dierks ou Conny Plank estão representados). Um timeline (1967-1975) e fantásticas fotos documentais completam este livro de quase 200 páginas. Iniciada a leitura, o que posso para já garantir é que há pouca vontade de pousar o livro e muita de continuar a imersão neste oceano de experimentação sonora. Texto mais alargado para breve, noutro suporte (primeiramente, e mais tarde por aqui).

Aproveitem e passem os olhos por estas páginas:

KRAUTROCK FOR BEGINNERS

20 Best Krautrock Records (Fact Magazine)



OLD RARE NEW

A loja de discos


Teimosamente, a loja de discos continua a sobreviver na idade digital. O livro «Old Rare New» celebra a história de permanência da loja de discos independente, espaço mágico de descobertas e passagem de informação.


Em «Saturday Morning Rush», Earl Zinger (aka Rob Gallagher dos 2 Banks of Four) descrevia um cenário que pode estar em vias de extinção: na sua ânsia de obter um novo maxi de hip hop, Zinger percorria as melhores lojas de discos de Londres, entrando e saindo de transportes públicos e debatendo-se com a concorrência dos coleccionadores japoneses que pareciam estar em todo o lado. Essa canção pode, inadvertidamente, ter-se transformado numa espécie de documentário romântico de uma rede que se vai desfazendo a cada dia que passa. «Old Rare New – The Independent Record Shop» é um novo livro que procura reflectir sobre a importância – sociológica, antropológica, artística – desses míticos locais.
Com selo da Black Dog Publishing (www.blackdogonline.com) e edição de Emma Petit (e com o envolvimento da portuguesa Rita Vozone – que foi membro dos Caveira – na assistência de edição), «Old Rare New» inclui entrevistas e depoimentos de ilustres como Davendra Banhart, Will Oldham, Chan Marshall (Cat Power), James Lavelle (Unkle) ou jornalistas como Bill Brester («Last Night a DJ Saved My Life») e Simon Reynolds («Rip it Up and Start Again»). Todos procuram sustentar a ideia da loja de discos como muito mais do que mero depósito de artefactos. Para procurar captar essa essência, «Old Rare New» é profusamente ilustrado com olhares sobre o interior das lojas de discos, com o poder gráfico de velhas etiquetas de singles e gloriosas capas de álbuns (onde surgem exemplos que nos são bem próximos de Bana com Luís Morais, Voz de cabo Verde, Black Power e uma compilação do Folclore de Angola, por exemplo).
Este livro surge num momento especial da história da nossa relação com a música gravada. Depois de um século de uma continuada encenação ritualista da ida à loja de discos – na Lisboa da transição dos anos 80 para os 90, a Contraverso, ao Bairro Alto, podia em certos dias ser o centro de um universo onde só visitas regulares garantiam uma passagem para o círculo interior que facilitava o acesso às novidades mais recentes – a Internet veio desfazer essa prática colocando tudo ao alcance de todos com apenas um clique. Se a vantagem óbvia dessa nova realidade passa por eliminar as distâncias físicas – um coleccionador do Porto pode mais facilmente ter acesso a peças anteriormente só disponíveis no mercado americano ou um dj de Lisboa pode, sem delay de espécie alguma, adquirir as novidades londrinas no dia da sua saída – o reverso pode encontrar-se na eliminação dos filtros erguidos com a loja de discos.
Por trás do balcão de uma loja – sobretudo as mais especializadas – estava sempre um conhecedor que orientava e até condicionava as compras do seu cliente. No ecrã de um computador, a simples quantidade de títulos disponíveis pode ser intimidatória. E, claro, perde-se totalmente o lado social espelhado na rede de clientes de cada espaço físico de venda de discos. «Old Rare New» procura preservar a memória desses espaços. Bill Brewster, autor ligado ao site djhistory.com com obra feita na área da construção de uma história do DJ, refere-se à loja que visitava com mais frequência quando habitava em Nova Iorque – a já desaparecida Chelsea Book & Records – como o seu «templo semanal». Já Will Oldham fala entusiasmadamente de encontrar discos há muito procurados de Phil Ochs e Dagmar Krause e de como se podem tornar verdadeiros tesouros pessoais.
Os mecanismos da nossa memória, por alguma razão, permitem registar o dia em que se adquiriu aquela cópia em vinil de «What’s Going On» de Marvin Gaye e não atribuir qualquer espécie de relevância ao momento em que se fez o download do último trabalho de Mos Def, por exemplo. Isso deve-se à carga emocional que atribuímos a cada uma dessas acções. Há, claro, uma nova geração que começa a erguer-se sem a referência do espaço físico celebrado em «Old Rare New» e para quem a Internet – seja para comprar música em suportes físicos ou simplesmente para a descarregar em ficheiros digitais – é a única realidade que conhecem. Para essa geração, «Saturday Morning Rush» e a sua descrição da azáfama nas lojas do Soho londrino pode ter o peso de um código arcano impossível de decifrar. E, por isso mesmo, para eles a passagem de olhos pelas páginas de «Old Rare New» pode ter o mesmo sabor que para uma criança terá um daqueles livros carregados com imagens dos tesouros do antigo Egipto: um mundo de riquezas gloriosas de um passado distante que já só se podem encontrar nos melhores museus do mundo. E, no entanto, ainda recentemente se fez fila à porta da Flur, em Santa Apolónia, para mais um intenso dia de saldos. Pode ser que nem tudo esteja perdido. Nesse caso, «Old Rare New» poderá igualmente ser visto como um excelente manual de instruções.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Syl Johnson na Numero


Vale bem a pena subscrever a newsletter do Numero Group: é uma das mais divertidas e inteligentes leituras do género. A mais recente conclui com a frase «cliquem aqui para começar o processo de esvaziamento de carteira». Os senhores não brincam em serviço e o risco é muito real. Uma das mais apetecíveis entradas num catálogo que é todo imprescindível (verdade!) é agora dedicada ao grande Syl Johnson, o homem que em tempos perguntou «Is It Because I'm Black?» (vídeo mais abaixo). O meu Natal não ficará completo sem isto:

80 songs covering his work for Federal, TMP Ting, Cha Cha, Zachron, Special Agent, and Twinight, along with nearly twenty previously unreleased tracks recorded along the way. Deluxe 6LP+4CD box includes both formats and a massive booklet, all housed in sturdy, side-loading container for easy display and use. First 1000 copies come with a bonus 45, which you'll have locked down via the subscription.


I-f e a Intergalactic FM

I-f, já se sabe, é um gigante de proporções desmedidas. E dá uma interessante e reveladora entrevista à Fact Online onde revela tudo o que importa saber sobre a aventura que sucede à CBS (Cybernetic Broadcasting System), a Intergalactic FM (links mais abaixo). Leitura obrigatória. Entretanto, inscrevam-se na Intergalactic FM (se não o fizeram já) e mantenham-se ligados. A música é criteriosamente seleccionada e disposta em quatro canais. Boa audição!

INTERGALACTIC FM

Mix de I-f para a Fact