Dj Ride não pára: editou muito recentemente o ep Beat Journey na Optimus Discos, viaja já no próximo dia 2 até Londres para duas apresentações (agenda preenchidíssima pode checar-se no MySpace) e ainda arranjou tempo para realizar esta entrevista com o 2/4 The Bass. Pelo meio, uma ética rigorosa de trabalho que lhe tem permitido registar avanços espantosos na música que produz e que o coloca na linha dianteira do que de melhor se faz na sua área. Dentro e fora de portas: o talento de DJ Ride tem que se medir à escala internacional!
Esta entrevista veio com um desafio para ofecer qualquer coisa aos leitores do blog. Talvez um dj set... Mas DJ Ride fez outra proposta: pediu-me um sample e em troca produziria um beat inédito para se distribuir a partir do 2/4 the Bass. Enviei-lhe «Allegro for Martenot» de John Leach, entrada clássica no catálogo de library da KPM. Ride é actualmente um produtor com um enorme fascínio pelos sintetizadores analógicos e por isso pensei que um antepassado desses artefactos - como o Ondes Martenot - cairia bem numa das suas produções. O resultado, cozinhado em apenas algumas horas (esse imediatismo era parte do desafio) está ao alcance de todos os que fizerem clique mais abaixo. Mas, para já, a entrevista.
Tens um novo ep na rua, Beat Journey: explica-nos que viagem é esta que andas a fazer pelo mundo da música?
Acima de tudo é absorver tudo aquilo que gosto e que me influencia, pegar em mil e uma sonoridades e tentar fundi-las com o meu toque pessoal, com a minha assinatura. Neste momento, mais do que nunca, ando à procura de coisas exóticas, diferentes do normal, desde discos antigos mais psicadélicos (que estão na origem do tema Hard Dayz por exemplo), até a electrónica experimental dos anos 70, dubstep ou esta nova vaga de beats que alguns apelidam de ‘wonky’. Quando entreguei o disco finalizado ao Henrique Amaro pensei que se calhar tinha ido um bocadinho longe de mais no que toca ao lado experimental e ao uso de certos sons de sintetizador, etc. Afinal de contas ia ser disponibilizado no site ‘Optimus Discos’, não fazia a mínima ideia do ‘target’, de quem iria fazer o download do disco. Hoje, passado 2 meses de estar online, e de alguns milhares de downloads depois, estou mesmo muito contente pela forma como foi editado, e o feedback tem sido incrível.
Desde a edição de Turntable Food a tua vida mudou muito: títulos como dj, aplausos enquanto produtor. Como é que lidas com isso?
Lido bem! Sinto sempre grande pressão em tudo o que faço, porque a fasquia está sempre muito elevada, mas dou-me bem com isso. O único senão é andar sempre ansioso pela concretização dos projectos e às vezes pensar no país onde vivo: estou sempre com a sensação que o número de pessoas que entendem a sério o meu trabalho é muito pequeno, ao contrário do que acontece lá fora, mas isso dá-me ainda mais força para trabalhar.
Tens uma disciplina de trabalho muito rígida. Produzes todos os dias?
Sem dúvida. Sem disciplina não se chega a lado nenhum. Quando estou nas Caldas produzo todos os dias, é lá que tenho o meu estúdio. Quando estou em Lisboa, aproveito para me dedicar a outra parte, procura de som novo, diggin, treinar, comprar musica, tratar dos booking’s, etc.
Explica-nos qual é o teu set up hoje em dia: com que ferramentas é que fizeste o Beat Journey?
Ao contrário do que possa parecer, usei muito poucos samples no Beat Journey, 90% é mesmo tocado. A lista de material é grande, tenho finalmente um MOOG, JP8000, FANTOM, JUNO, NORD, a eterna MPC 2000XL, e gravei/misturei tudo no Ableton LIVE, que é o meu software preferido neste momento. Depois tive a ajuda de mais umas coisas, vocoder/talkbox, scratch com o meu próprio tool, a guitarra e percussão do Stereossauro, etc. Neste momento estou a actualizar novamente o estúdio, estou quase a fechar a aquisição de uns quantos bichos novos para o upgrade.
A tecnologia tem evoluído bastante: és daqueles que só vê vantagens nisso ou também adivinhas perigos?
Eu sempre fui um amante de ‘gadget’s’ de todo o tipo, e no que diz respeito a música, por norma ao início sou sempre um bocado céptico, mas depois acabo por me render. Por exemplo ao Serato! Embora não consiga ir para um gig, por mais longe que seja, sem discos cheios de pó… mas sou um caso atípico, hoje em dia compro muito mais vinil do que há 4 anos atrás, mas também compro musica pelo Beatport e etc. é fundamental para me manter actualizado. Como em tudo é uma questão de bom senso, sinto que continuo verdadeiro naquilo que gosto, com computadores ou sem… Mas acredito que daqui a uns tempos muita coisa vai deixar de ter a piada que tem devido aos ‘Plugins’ que fazem tudo num click….
Editaste um ep em vinil antes do Beat Journey pensado como uma DJ Tool. Há mais planos para objectos desses?
Sim, para nós não faria sentido editar um scratch tool e pronto, ficar por ali. Eu e o Stereossauro estamos a trabalhar num novo, com um conceito um pouco diferente do 180 GR, mas dentro do mesmo registo. De um lado beats, do outro lado samples. Estamos a cerca de 2 meses de ter um novo cá fora, e o nosso objectivo principal era dar continuidade a estes Tool’s no futuro.
Na tua última passagem pela Supafly compraste alguns library records. É uma área que te inspira?
Sim, muito mesmo. Quando vejo um disco desses à frente nem me importo com o preço. Ainda para mais, tendo em conta que são discos bastante raros, aumenta em muito a curiosidade. Os samples que tenho apanhado nestes discos são deliciosos…
Tens trabalhado com muita gente: músicos de jazz, mcs, outros produtores de hip hop, outros djs. Achas importante um produtor ter abertura para trabalhar em diversos contextos?
Ser posto à prova é fundamental para um produtor. E sobretudo sair da sua ‘zona’ confortável. Se não existe abertura nem sequer faz sentido pensar em trabalhar noutros contextos. Pessoalmente é das coisas que me motiva mais, estar em contacto com pessoas totalmente diferentes de mim no que toca a abordagem musical de cada um.
Sentes-te mais dj, mais produtor, mais músico?
Musico experimental/beat maker!
Planos para o futuro mais imediato?
Manter este ritmo de trabalho, editar o segundo TOOL, outro EP, outro Álbum, e finalmente tentar lançar algo lá fora.
Neste momento tens igualmente responsabilidades num programa de rádio, como o manipulador da pós produção do Ginga Beat da RBMA na Antena 3. Como é que tem sido aplicar técnicas de produção musical a um programa de rádio?
Este é mais um daqueles projectos que estava bem longe de pensar que iria estar envolvido, quando comecei a produzir. No inicio de tudo, depois de receber o briefing inicial, não queria acreditar naquilo que me estavam a pedir. Fazer scratch nas vozes dos locutores? por glitch's e efeitos.. fazer jingles experimentais, desde ambientes/drones até beat's electrónicos.. para alem da selecção musical que surpreende programa após programa... Só mesmo uma ideia vinda da RBMA. O Ginga Beat tem superado todas as expectativas, e a evolução do programa zero, até agora, passados 5 meses tem sido notória. Tem-me dado um gozo enorme poder contribuir para um programa único, ainda por cima a passar na Ant3na, com a equipa fantástica que temos.
Top 5 de músicas nos teus sets actualmente
Akira Kiteshi : Pinball
Jay z – death of autotune
Bassnectar – art of revolution
Bombstrikes VOL 14
Ride-Beat Journey
Top 5 de produtores actuais
Akira Kiteshi
Dimlite
Siriusmo
Epromm
Harmonic 313
Top 5 de ferramentas
Akai MPD 32 (para os live’s)
LIVE 8 (acabadinho de chegar)
Serato
Tampões para ouvidos
Água
Dj Ride - Allegro Suite (2/4 the Bass Xclusive)
segunda-feira, 29 de junho de 2009
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esse ride é um abuso... o Allegro Suite tá demasiado bommmm!
ResponderEliminaresta excelente mesmo hipnotico e futuristico a mostrar a qualiidade do nosso hip hop e da do dj ride ...continua esse bom trabalho, este blog e um maximo aprendesse mto aqui.
ResponderEliminarComo costumo dizer no círculo restrito da minha tertúlia musical, este gajo (DJ Ride) é um case study de talento.
ResponderEliminarum autêntico prodígio! este senhor sabe do q fala, com uma humildade extasiante!!
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