sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Superdisco # 4: Maria Matos, sábado 12 de Dezembro - 18h30


Amanhã pelas 18h30 o MMCafé do teatro Maria Matos recebe a quarta edição da iniciativa Superdisco para a qual fui convidado. Pensei originalmente falar sobre «Astro Black» de Sun Ra, mas ao perceber melhor a direcção destas conversas decidi então eleger 3 Feet High and Rising para tema central da conversa. Por várias razões, as mais importantes de todas puramente musicais. Mas algumas de ordem simbólica: recebi este álbum de presente em Maio de 89 (estava na montra da Contraverso e fui eu que o escolhi) e um mês depois começava a minha primeira aventura jornalística a tempo inteiro com o ingresso na redacção d'A Capital onde tinha começado a colaborar em Fevereiro (com um texto sobre o impacto da cena Acid House em Inglaterra). Será portanto 3 Feet High and Rising o álbum a dar o mote para a conversa de amanhã. Espero encontrar-vos por lá...

Há uns anos escrevi este texto para a Op:

DE LA SOUL: NOW & THEN
“AOI: Bionix”/”3 Feet High & Rising”
(Tommy Boy)


O que é o hip hop? Uma rima e uma batida; uma esquina na rua que um b-boy aproveita para enquadrar movimentos que desafiam as leis da física; um DJ em “profunda concentração” sobre dois gira-discos; um produtor com “dedos empoeirados” de tanto percorrer a caixa das pechinchas numa loja de vinil de segunda mão; um writer que “bombardeia” uma parede com explosões de cor; um microfone, um sampler, um gira-discos, um pedaço de papelão no passeio, uma rodela de vinil, uma lata de spray... E tantas outras coisas. Os De La Soul sabem. Vocês sabem. Todos sabem. Mas nem todos admitem.

Por exemplo, porque é que o recentemente reeditado “3 Feet High & Rising” é tão profundamente amado e discos mais ou menos contemporâneos como “The Low End Theory” dos A Tribe Called Quest, “Stunts, Blunts and Hip Hop” de Diamond D, “Don’t Sweat The Technique” de Eric B & Rakim, “No More Mr. Niceguy” dos Gang Starr ou “Breaking Atoms” dos Main Source raramente conseguem a mais pequena menção nos media? A verdade é muito simples: as razões que justificam a generosa atenção dada a “3 Feet High & Rising” estão para lá do hip hop. Que fique muito claro: não há aqui a mínima intenção de reescrever a história. O primeiro álbum dos De La é uma obra prima. Os beats de Prince Paul em suspensão milimétrica sobre a história da música negra, as rimas technicolor de Posdnuous, Trugoy e Maseo, a atmosfera de “Quiz Show”, os loops imaginativos, enfim, tudo mesmo no disco é perfeito. E pop. Acessível, transparente, cantarolável e dançável. Por isso é que esse disco surge em todas as listas de Melhores de Sempre. No fundo, “3 Feet High...” está para o hip hop, como “What’s Going On” para a soul. Ambos são discos perfeitos, com um inigualável equilíbrio entre conteúdo e forma. Mas ambos ultrapassaram as fronteiras dos géneros que os viram nascer para se colocarem numa mais alargada divisão a que, à falta de melhor termo, ainda chamamos “Pop”.

Desde então, e tendo compreendido isso mesmo, a carreira dos De La Soul tem-se pautado por um único impulso: o do regresso às bases. Como se do alto da Penthouse que passaram a habitar, Mase, Posdnuous e Dave ansiassem pelo regresso à tal esquina imaginária adornada, no passeio, com o tal cartão que os B-Boys usam para desenhar os movimentos fluídos com que traduzem no espaço os grooves dilatados do hip hop.

O novo álbum, “AOI: Bionix” já encontra os De La Soul perto do piso térreo do edifício que define geograficamente a tal esquina. Beats inoxidáveis, traçados digitalmente na realidade hip hop actual, bleeps sintéticos, traços de gospel e blues, soul do novo milénio e frases que definem uma vontade: “if i had to join a gang, i think i’d join Gang Starr”. Os De La Soul só querem regressar à rua. E fazem-no com inigualável classe.




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