quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Joakim: cientista louco

Regresso do produtor francês de culto que já emprestou o seu toque pessoal a artistas como Cut Copy, Simian Mobile Disco ou Royksopp. «Milky Ways» é o título da sua viagem pelo espaço.

Uma busca na Wikipedia revela o nome de Joakim Lindstrom, que por acaso identifica um jogador de hóquei sueco nascido em 1983, mas que não ficaria mal como baptismo para um projecto que reunisse o norueguês Hans-Peter Lindstrom e o francês Joakim Bouaziz. No que a projectos musicais diz respeito, seria perfeitamente possível pensar em encontros bem mais improváveis. Afinal de contas, Joakim e Lindstrom partilham um mesmo gosto por paisagens analógicas, sons em câmara lenta e uma ideia muito sui géneris de disco sound. Esses pontos em comum entre a obra do produtor nórdico e do homem do leme da editora Tigershushi tornam-se mais evidentes durante a audição de «Milky Ways», trabalho que sucede a «Monsters & Silly Songs» na discografia de Joakim. Entre o rock e um psicadelismo electro, disco progressivo, new wave transviada e algo mais de indiscritível, adivinha-se o som de um produtor a chegar à idade adulta, com perfeita consciência da exposição plena do passado perante os ouvidos contemporâneos.
A revista online 365mag citava Joakim a propósito de «Milky Ways»: «Penso que a maior parte dos jovens artistas de hoje são uma espécie de arqueólogos, especialmente nos domínios do design gráfico e da arte contemporânea». Não é possível competir com a história, com o que já foi feito. Tem-se que usar isso de forma mais ou menos desrespeitosa para se conseguir fazer coisas novas. Não se pode dizer apenas “vamos fazer algo novo e esquecer tudo o que foi feito antes”. Isso é impossível e pretensioso. Especialmente quando toda essa música está disponível algures em permanência. Sou viciado em música e ouço coisas muito diferentes e sempre que ouço algo interessante numa canção eu penso “vamos tentar isto, colocar esta ideia num contexto completamente diferente e ver o que acontece, como um cientista louco.» A confissão de Joakim é desarmante e também profundamente honesta. A tecnologia transformou boa parte da criação em colagem, o que não significa que no contexto actual o acto de colar seja inferior ao de criar. A verdade – e concentremo-nos especialmente no universo da música – é que nunca nenhuma outra geração teve que lidar com o facto de passado e presente existirem num mesmo plano, indiferenciado: uma nova banda pode ser em iguais doses influenciada pelos Beatles e pelos Arctic Monkeys – estão ambas presentes nas prateleiras das grandes cadeias de lojas. Ou por Bernard Szajner e Flying Lotus… A cada dia que passa aumentam as referências disponíveis, se não no mercado das reedições, certamente nos blogs apostados em digitalizar as mais obscuras memórias. Joakim tem consciência desse facto. E «Milky Ways» mostra-o claramente.
«Sempre que termino um disco, penso sempre, “ok, isto é o que eu não gosto, temos que fazer algo diferente para a próxima. Desta vez eu pensei em fazer algo mais simples e mais directo do que no álbum anterior, mas não me parece que tenha conseguido. Quando estava a masterizar o disco pensei “whoa, isto é bastante intenso. É como se a dado momento o processo criativo escapasse ao meu controle. Tentamos ter uma forma de adaptar as canções que nos dê mais liberdade para improvisar, dependendo da situação. Na maior parte das vezes as versões ao vivo dos temas são mais simples e mais rock – bastante barulhento por vezes. A inspiração base para o álbum foi a ideia de juventude e de espírito adolescente na nossa sociedade baseado no consumo. E isso colocado em paralelo com a ideia de estado selvagem ou de paraíso perdido. Como se estas duas coisas – estado selvagem e juventude – fossem dois estados míticos.»
O subtexto psicadélico que atravessa «Milky Ways» ajuda a compreender as declarações de Joakim, interessado em regressar a uma pulsão mais primária e comunal com a banda que o acompanha, apropriadamente baptizada como The Disco. Goblin e 13th Floor Elevators, Richard Bone e Rinder & Lewis, Lindstrom e Chris & Cosey, os Can e Alan Vega… Joakim. As coordenadas são as da mais pura liberdade e da mais aberta imaginação. E «Milky Ways» é Joakim a pensar em voz alta, no estúdio, com músicos capazes de o seguir em qualquer direcção. Como os assistentes de um louco e visionário cientista.

1 comentário:

  1. muito maneiro msm... !!!!!!! esse cara realmente e pica das galáxicas... merece uns aplausos..hehe

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