Algures este ano cumprem-se 25 anos sobre a epifania que me fez chegar à música de forma mais... digamos, intensa. Um vídeoclip de «Song to The Siren» (no Vivamusica?...) permitiu de alguma forma encaixar as minhas aproximações anteriores e tudo começou a fazer mais sentido. Apontou a direcção e facilitou a chegada a um universo indie que, na verdade, disparava em todas as direcções. E cá estou hoje, a escrever depois de uma noite na cabine do clube Ouriço, na Ericeira, suficientemente dilatada para permitir viajar por The Clash, Prince, Nirvana, PigBag, Chaka Demus & Pliers, Heróis do Mar, Gino Soccio, Sylvester, Timbaland, Talking Heads, Miami Sound Machine, James Brown, Spandau Ballet, Lady Gaga e muito sinceramente um par de guilty pleasures que não me atrevo a inscrever aqui (para além da referida lady...).
E para que serve tamanho preâmbulo? Para vos chamar a atenção para o facto da Flur ter passado a representar no "mercado" nacional a belíssima Honest Jon's. A Honest Jon's é uma instituição: era nesta loja de Portobello Road (onde me lembro muito distintivamente de comprar um disco de Harlem River Drive há mais de 15 anos) que trabalhava James Lavelle e terá sido ao dono, o honesto Jon (que, graças ao comentário do Pedro eu sei agora que se chama Alan), que James terá pedido mil libras emprestadas para fundar a Mo' Wax, com apenas 18 anos de idade. Jon entretanto alargou a experiência da loja para uma label, tal como a Soul Jazz antes de si. Com o envolvimento do verdadeiro "globe trotter" Damon Albarn (curiosa a ligação de estrelas pop a labels com que por vezes não seriam imeditamente associados - já Mick Hucknall, dos Simply Red, por exemplo, tinha ajudado a financiar a crucial Blood & Fire), a Honest Jon's criou um impressionante catálogo, que agora está ao alcance de uma viagem de metro até Santa Apolónia (e essa é apenas a mais divertida opção, uma vez que a distribuição Flur certamente fará chegar estes preciosos objectos até outros postos).
E agora, a parte que fará o primeiro parágrafo parecer mais do que um desvio sem sentido. No catálogo da Honest Jon's, e para citar apenas alguns exemplos mais recentes, encontram-se recolhas efectuadas na Bagdad dos anos 20, descargas na nu yorica dos anos 70, mergulhos nas comunidades africanas da Londres de finais da década de 20 do século passado, passagens por Lagos, na Nigéria, ou pelas ruas da Nova Iorque de Moondog e uma generosa reinvenção do futuro conduzida pelo trio de Moritz Von Oswald. Passado, futuro, presente; África, América, Europa; um olhar generosamente inclusivo sobre culturas, práticas, abordagens e estéticas que só aparentemente estão desligadas umas das outras. O que eu aprendi nestes 25 anos - e muito à custa de um par de disparates cometidos quando a idade ainda não me permitia perceber opções de relacionamento com a música como a que é enunciada pela Honest Jon's e que me levaram a desfazer-me de discos que eu achava que não poderiam partilhar espaço com outros... (e lá terei eu que voltar a comprar Pavement outra vez) - é que tudo está ligado e que não há compartimentos estanques. Ideia simples, mas a que esta indústria tem sido mais resistente do que será (agora) compreensível. Talvez nesta época de redifinição de paradigmas se venha a perceber que o caminho enunciado pela Honest Jon's - de redescoberta de memória passada e de construção de memória futura - é o único caminho válido. Porque praticamente toda a música que editam é, de facto, extraordinária.
sábado, 1 de agosto de 2009
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Rui,
ResponderEliminarDesculpa-me o atrevimento de te corrigir, mas o Jon Honesto chama-se, na realidade, Alan, um simpático canadiano radicádo em Londres.
Continua o teu grande trabalho.
Abraço
Pedro
Olá Pedro
ResponderEliminarnão é atrevimento nenhum, muito obrigado. Não fazia ideia de como se chamava o dono, daí ter-me referido a ele como "honesto Jon". Mas já fiquei a saber mais qualquer coisa. E, por favor, corrige-me sempre que quiseres. E obrigado por leres. Até breve.