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Tal como na América a afirmação do orgulho negro através do ritmo de James Brown tinha tudo a ver com as conquistas do Movimento dos Direitos Civis, também em África os fluxos independentistas vieram abrir caminho para que a celebração se alargasse das ruas aos clubes nocturnos. Nos últimos tempos, a atenção concentrada sobre a África ocidental por parte de editoras como a Soundway, Analog Africa, Strut, Vampi Soul e também a Oriki tem permitido que uma outra imagem musical desse continente possa ganhar forma para lá daquela sancionada pelo rótulo “world music”. Álbuns com Moussa Doumbia (saxofonista do Mali com carreira centrada na Costa do Marfim), Djelimady Tounkara (líder da Rail Band do Mali nos finais dos anos 70, na era pós Salif Keita e Mory Kanté), Kante Manfila e Sorry Bamba (dupla Guiné/Mali), Amadou Balake (representante do pulsar latino na cena musical do Burkina Faso) e Orchestra Baobab (os senegaleses que têm, provavelmente, o nome mais sonante do catálogo) deixaram claro o posicionamento desta editora, interessado em explorar o lado mais ritmado do legado africano das décadas de 60 e 70.
«A Oriki», explica, em português, Greg Villanova (há um ascendente brasileiro na sua família), «surgiu em 2006, porque essa era a única maneira de partilhar essa musica com o máximo de pessoas, de prestigiar artistas pouco ou totalmente desconhecidos no ocidente, de valorizar a modernidade e a mestiçagem/mistura musical africanas existentes já na década de 70 e dialogar com o que se faz hoje. Graças ao sucesso do afrobeat é hoje possível alargar atenção para músicas africanas "groovy" sem que estas sejam estritamente influenciadas pelo groove funk».
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«A morte de Fela,» explica Greg, «abriu as portas para o renovado interesse na África urbana. O selo pioneiro Comet Records de Paris com suas coletâneas "Racubah" "Ouelele" abriu as portas no fim dos anos noventa, seguido por outros selos que lançaram colectâneas como "Afro Rock". Ao mesmo tempo, alguns djs e coleccionadores começaram a interessar-se por discos africanos e o movimento foi-se desenvolvendo modestamente a nível mundial em torno de noites de clubes com música retro.»
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Apesar do esforço notório da Oriki, só o álbum da Orchestra Baobab é que tem gerado números de vendas interessantes, facto compreensível por se tratar de um nome sonante, situando-se todos os outros títulos abaixo da linha de água. O impulso mais importante, mais do que a viabilidade comercial, continua a ser a revelação de um passado vibrante. A música incluída nestes discos, justifica toda a nossa atenção.
(texto publicado originalmente na revista Parq)
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