A propósito, deixo aqui um excerto do trabalho que assinei na Blitz sobre os 50 anos da Motown.
Motown: O Som da Jovem América
Antes dos Beatles chegarem, o ritmo da pop era ditado pela Motown, uma editora que serviu de banda sonora à evolução da América.
Motown não mudou o mundo, mas forneceu-lhe a banda-sonora para algumas das grandes transformações testemunhadas pela história.
De certa maneira, pode até afirmar-se que os 50 anos que esta editora agora comemora são a medida certa da transformação da América - do nascimento dos movimentos de protesto liderados por gente como Martin Luther King Jr na segunda metade dos anos 50 até à tomada de posse do primeiro presidente negro no arranque de 2009.
Meio século carregado de mudanças que viu a pop transformar-se num fenómeno global. É até possível ir mais longe e dizer que a pop é, por excelência, a linguagem universal. E se a pop é o universo, a Motown estava lá, seguramente, quando se deu o "big bang".
Quando Rosa Parks fez soar o seu histórico "não" ao condutor do autocarro de Montgomery, no Alabama, em 1955, Berry Gordy Jr tinha regressado há pouco tempo da guerra na Coreia e tentava a sorte como lutador de boxe na esperança de enriquecer rapidamente. A família Gordy, como tantas outras, tinha imigrado para Detroit para escapar ao Sul que Rosa Parks sonhava transformar.
A explosão da indústria automóvel nos anos que se seguiram à II Guerra Mundial oferecia uma perspectiva de futuro e, por isso mesmo, o êxodo do Sul conservador e rural para o norte liberal e industrial era imparável. Berry Gordy experimentou o rigor das fábricas automóveis da "motor town" - e ter-se-á até inspirado nelas mais tarde... - testou a sua sorte no ringue e foi chamado pelo Tio Sam antes de ter conhecido o cantor Jackie Wilson num bar que era propriedade de Al Green, o Flame Show. O sonho americano, para Gordy, começou aí. O calendário marcava 1957 e Dr. King organizava a luta através da Southern Christian Leadership Conference.
A invenção do sucesso
Em colaboração com a sua irmã Gwen, Berry escreveu "Reet Petite" para Jackie Wilson, que se tornou um sucesso regional em 1957. A revolução rock and roll estava em marcha impondo uma mesma batida a jovens brancos e negros de toda a América. Gordy percebeu muito depressa que esse era o caminho.
"Lonely Teardrops" foi outro dos temas que Gordy escreveu para Jackie Wilson e o seu primeiro real sucesso: chegou ao topo das tabelas r&b e instalou-se confortavelmente no Top 10 da tabela pop. A etapa seguinte, para Gordy, seria a autonomia.
Numa época em que a indústria da música vivia ainda sobretudo de êxitos regionais e pequenas operações cuja ambição morria quase sempre à porta dos estúdios, Berry ousou sonhar mais alto, pensando uma estrutura em que artistas, músicos, compositores, produtores, vendedores e promotores trabalhavam todos em harmonia e com um objectivo comum - fabricar êxitos.
Esse sonho tornou-se realidade em 1959, impulsionado por um empréstimo familiar de 800 dólares - primeiro nasceu a Tamla, em Janeiro de 1959, e depois a Motown Records, em Dezembro do mesmo ano. Pelo meio, o caminho foi sendo pavimentado pelos galardões alcançados graças ao impacto de canções como "Come to Me" (Marv Johnson) ou o explícito "Money (That's What I Want)", escrito por Berry Gordy para Barrett Strong e alvo de uma histórica versão dos Beatles em 1963.
Nada mais natural para Gordy do que fazer uma canção onde manifestava os seus mais profundos desejos. A julgar pelo sucesso obtido logo com os primeiros singles, Berry estava plenamente concentrado nos seus objectivos.
(podem ler este excerto aqui)
Vídeo do arquivo de fitas da Motown
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